Morreu Domingos Ferreira, o militante a quem o PS deve “muitos êxitos políticos e eleitorais”

Há os que brilhavam à frente dos holofotes e os que brilham atrás, como este militante do PS, quase anónimo, que desenhou quase todos os eventos do partido nos últimos anos.

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Foto partilhada pelo próprio Domingos Ferreira na sua conta da rede social Facebook DR
Congresso do PS 2018
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Congresso do PS 2018 Rui Gaudencio
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Domingos Ferreira DR

Se Jorge Coelho era o homem do aparelho, Domingos Ferreira era o homem de todas as campanhas e congressos do PS. Há muitos anos que este militante de base idealizava e montava os eventos mais importantes do partido. Faria 73 anos no próximo dia 20 de Maio. Morreu esta sexta-feira, ao final da tarde, no Hospital de Santo António, no Porto, onde estava internado há uma semana. A notícia foi confirmada ao PÚBLICO por Manuel Pizarro, líder da distrital do Porto do PS.

“Domingos Ferreira foi sempre um militante dedicado e um organizador inspirado e competente. Deixa na memória de todos os socialistas uma enorme saudade e uma grande gratidão por tudo o que fez ao serviço do PS. Vai fazer muita falta. Para mim é uma perda com grande desgosto pessoal”, disse Pizarro.

Indispensável a todos os secretários-gerais socialistas desde Jorge Sampaio — nomeadamente a António Guterres, José Sócrates e António José Seguro — Domingos Ferreira organizou o congresso do PS Porto, em Setembro do ano passado, evento durante o qual foi homenageado. Apesar de ter idealizado todo o conclave (o seu último conclave), já não pôde estar presente por causa da doença que o vitimou.

Há pouco mais de um mês, quando Domingos Ferreira já estava muito doente, António Galamba dedicou-lhe algumas linhas num artigo de opinião no jornal Inevitável. “Na história partidária, política e dos governos do PS, ao longo dos últimos 27 anos, dificilmente existirá algum ano em que o Domingos Ferreira não tenha assumido o desafio logístico de organizar um qualquer evento ou conjunto de eventos, assegurando pela sua competência, conhecimento e experiência, uma solidez e tranquilidade com as soluções logísticas encontradas”, lembrava o antigo dirigente do PS.

“O Domingos Ferreira foi um dos pressupostos de muitos êxitos políticos e eleitorais do PS, aquém dos que brilhavam em frente dos holofotes, mas muito além do que existia no mercado de respostas e soluções logísticas, apesar das dúvidas de alguns comprometidos com interesses particulares de circunstância”, escreveu António Galamba, para quem o socialista foi “um protagonista quase oculto da história dos protagonistas e de acontecimentos políticos e partidários do PS”.

Quando a notícia da sua morte chegou ao Facebook, sucederam-se as mensagens e as homenagens. Renato Sampaio, ex-deputado, escreveu que veste luto na alma. “Desculpa, mas hoje não consigo dizer ou escrever mais nada. Na minha cabeça fervilham memórias de mais de 40 anos de um caminho comum. Mereces um tributo à altura da tua dimensão humana, eu sei, com a serenidade e justiça que tu mereces, escreverei esse tributo.”

Em 2016, um artigo do PÚBLICO sobre Domingos Ferreira começava assim: “O que têm em comum o Congresso Mundial do Presunto de 2013 em Ourique, a tomada de posse de António Costa como presidente da Câmara de Lisboa em Novembro de 2009, o spot televisivo de apelo ao voto antecipado dos estudantes nas regionais dos Açores de 2008 e o encerramento da Volta Nacional de Apresentação do Programa Simplex 2016? A mão de empresas de Domingos Ferreira, um militante e ex-funcionário do PS.”

Domingos de Pinho Ferreira era visto no partido como um homem de bastidores. Filiou-se no PS em 1979, anos depois de regressar de Angola, e trabalhou no FAOJprecursor do Instituto Português da Juventude. No início dos anos 80, era já funcionário dos quadros do partido e ajudava a montar a máquina das campanhas e as angariações de fundos. Foi depois disso que fundou a AEDIS – Assessoria e Estudos de Imagem, que foi sempre uma das mais importantes empresas fornecedoras do PS.

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