Um clássico que vai para além da matemática

FC Porto ainda aponta ao primeiro lugar, ao mesmo tempo que se defende dos ataques ao segundo. “Encarnados” procuram o acesso directo à Liga dos Campeões.

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Pepe e Darwin estão aptos para ir a jogo no clássico da Luz LUSA/JOSE COELHO

Com Sérgio Conceição providencialmente no banco, mas ainda remetido a um silêncio ensurdecedor, coube a Jorge Jesus a fatia de leão da antecipação do 247.º clássico entre Benfica e FC Porto. Um embate de suma importância para qualquer das equipas, com os “dragões” a acreditarem na revalidação do título até ao limite da matemática e as “águias” a apontarem ao segundo lugar (e ao acesso à Champions) no sprint final do campeonato.

O empate, em primeira análise, só interessará ao líder Sporting, embora Jorge Jesus tenha agitado o véu do pragmatismo “azul e branco” ao afirmar que o Benfica ainda tem intacto o objectivo da Taça de Portugal, enquanto ao FC Porto já não restam metas para atingir em 2020-21. “O Benfica ainda pode ganhar um título, o FC Porto já não pode ganhar título nenhum (…) nós ainda temos um objectivo que é curto, mas ainda é uma final”, sublinhou. 

Mas o que poderia configurar uma alfinetada no orgulho dos “dragões”, pode, na verdade, encerrar uma leitura alternativa por parte de Sérgio Conceição, por muito que os portistas garantam que não atirarão a toalha ao solo. É que em termos práticos, estando o título a uma distância considerável para esta fase da época, e atendendo ao peso financeiro de uma presença certa na fase de grupos da Liga dos Campeões, estabelecer uma distância segura na defesa do segundo lugar pode oferecer uma perspectiva ligeiramente diferente, com o empate a não dever ser desprezado pelos “azuis e brancos”.

Já Jorge Jesus, que neste regresso à Luz ainda não venceu nenhum clássico (derrota em Alvalade e empate no Dragão), depende de uma vitória para ainda poder aspirar à vice-liderança, sabendo de antemão que a 15 de Maio ainda tem encontro marcado com o Sporting.

Falta saber se Sérgio Conceição, que acabou o clássico da primeira volta a ferver, de costas voltadas para Jesus, manterá o sangue frio e o pragmatismo que imprime ao jogo portista para poder prolongar ao máximo a luta pelo título.

Neste diálogo de surdos, Jorge Jesus é o que terá menos a perder, pois haverá sempre o Jamor. Facto que poderá ajudar o FC Porto a adoptar uma estratégia mais sustentável e em tudo semelhante à que levou a equipa às portas das meias-finais da Liga dos Campeões.

Até porque os portistas se apresentarão desfalcados de Corona, elemento fundamental - já apontado internamente como o melhor jogador do plantel. Jorge Jesus não está à espera de ver o mexicano em campo, adiantando que Luis Díaz será o substituto óbvio. Uma reflexão normalíssima, a menos que a lesão de Corona, no primeiro quarto de hora do FC Porto-Famalicão, da última ronda, não passasse de mera encenação, conforme deixou no ar o técnico dos “encarnados”.

Taarabt OK, Corona KO?

E, com Corona ausente, o FC Porto pode encontrar mais um motivo para não se expor demasiado, optando por abordagem mais conservadora, mesmo sem reprimir o instinto predador. Ainda sem vitórias nem derrotas nos três clássicos da época, na Liga, Sérgio Conceição procura, com menos recursos, e com o regresso de Pepe, o ângulo ideal para repetir a façanha da época passada, então com as bancadas repletas, numa vitória categórica (0-2).

Na inversa, o Benfica parece ter recuperado Taarabt e Darwin, apresentando-se reforçado para esta final em termos de acesso directo à Champions, ainda que Seferovic, com nove golos nos últimos nove jogos, desempenhe o papel principal nesta disputa. O suíço foi, de resto, o autor do golo da última vitória do Benfica, na Luz, frente ao FC Porto, no início da época de 2018-19.

Nessa altura, já com Sérgio Conceição no banco portista - e Rui Vitória no do Benfica (antes de ser dispensado) -, os “dragões” foram ultrapassados pelo rival à sétima jornada, apesar da abundância de opções à disposição do técnico do FC Porto, que levava para o banco de suplentes Sérgio Oliveira e Corona, dois indiscutíveis no figurino actual. Mas nem Casillas, Maxi, Militão, Felipe, Alex Telles, Danilo, Herrera, Soares e Brahimi evitaram o pior num “onze” do qual restam Otávio e Marega.

Hoje, a partir das 18h30 (BTV), recomeçarão as contas. As do título, as do segundo lugar, as do orgulho, as dos milhões da Liga dos Campeões e as do marcador propriamente dito, que ditarão o futuro próximo de FC Porto e Benfica. Em 2020-21 e em 2021-22.

 

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