Asma controlada, vida livre de crises

É uma doença de intensidade variável, podendo variar de ligeira a grave. A asma, apesar de crónica, tem tratamento. A pessoa com asma pode viver uma vida livre de sintomas. Para isso, é necessária uma vigilância regular, para uma melhor gestão da asma, no sentido de adequar a medicação que controla os sintomas e que previne as crises. O Dia Mundial da Asma comemora-se a 5 de Maio.

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É um dado comum. A percepção que a pessoa com asma tem da sua doença não corresponde, frequentemente, à realidade. Não é raro ter sintomas que tolera e que pensa já fazerem parte do seu dia-a-dia, começa por explicar Cláudia Vicente, médica de família da USF Araceti, em Arazede (Montemor-o-Velho). “Na verdade, uma pessoa com asma deve ter uma vida livre de sintomas e sem limitações. Uma asma controlada significa uma ausência total de sintomas com o menor tratamento possível e sem recurso a medicação de SOS e sem crises”, adianta.

Mesmo para os doentes que já reconhecem a sintomatologia e que consideram que conseguem ter a sua doença equilibrada, nem sempre é fácil distinguir asma de difícil controlo e asma grave. “Uma asma de difícil controlo obriga a uma revisão integral de todo o processo, desde o diagnóstico, ao tratamento, passando pelos agravantes e pelas comorbilidades. Muitas vezes, o segredo está em pequenos detalhes que permitem optimizar o tratamento e chegar ao controlo da doença”, sugere Cláudia Vicente. A asma grave necessita de outro tipo de cuidados, desde logo, “um tratamento com corticoesteróides orais ou inalados em altas doses, mesmo após a optimização das medidas gerais (tabaco, exposições a triggers e técnica inalatória). Corresponde aos degraus mais altos na classificação da doença e é tratada em meio hospitalar onde existem tratamentos disponíveis, cada vez mais personalizados e só acessíveis a este nível de cuidados”, acrescenta.

Desafios na gestão da doença

E quando a doença não dá sintomas? É normal que um doente asmático até se chegue a esquecer que o é, e isto acontece quando tem a sua doença controlada e com o tratamento instituído. No entanto, esta situação pode levar a esquecimentos no que respeita à adequada adesão à terapêutica. Ao não fazer a sua medicação como recomendado pelo seu médico assistente, estará a propiciar a perda de controlo da sua doença e a necessitar de maior recurso à medicação SOS, o que Cláudia Vicente assinala como “um enorme sinal de alarme e de mau prognóstico”. Daí ao re(surgimento) de crises de intensidade variedade, vai um pequeno passo.

No que respeita à medicação de alívio, a médica de família indica que há um excesso de confiança por parte dos doentes. “Não é raro encontrarmos pessoas com asma que abandonam o seu tratamento de base com corticoesteróides inalados porque não sentiam um alívio imediato e passam a usar apenas o seu broncodilatador de acção rápida (medicação de SOS) por ser essa a medicação com a qual sentem alívio.” Enquanto doença crónica inflamatória, o tratamento da causa não pode ser descurado. E esse faz-se com corticoesteróides inalados, que são fármacos totalmente seguros. “A medicação de SOS não trata a causa subjacente, permite que a doença evolua e se torne mais grave. Também não trava a crise, apenas alivia momentaneamente os sintomas e provoca tolerância. Isto é, será necessária uma dose progressivamente maior para controlar os sintomas com todos os efeitos adversos associados”, salienta Cláudia Vicente.

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A medicação de SOS não trata a causa subjacente, permite que a doença evolua e se torne mais grave e também não trava a crise, apenas alivia momentaneamente os sintomas e provoca tolerância Cláudia Vicente, médica de família da USF Araceti

Por vezes, crises não controladas e em que se tenha abandonado o tratamento de base podem ser graves ou chegar a ser fatais como o tão falado caso da jovem canoísta portuguesa [Catarina Sequeira, de 26 anos, faleceu em 2019, após ter entrado em morte cerebral devido a um ataque agudo de asma], alerta a médica.

Alguns preconceitos relativamente à medicação essencial para a asma podem também afastar os doentes da adequada adesão. Cláudia Vicente desmistifica algumas ideias enraizadas na população focando-se na segurança e na literacia para a saúde. “Os corticoesteróides inalados são fármacos anti-inflamatórios, totalmente seguros e, tal como o próprio nome indica, são inalados, portanto, têm uma acção local no aparelho respiratório. As doses utilizadas são totalmente seguras e muitíssimo mais baixas que as doses de corticoesteróides orais necessárias para controlar uma crise”, refere. Estes tratamentos de primeira linha, que podem ser usados nas crianças e nas grávidas, são indicados segundo as guidelines internacionais (da Global Strategy for Asthma Management and Prevention) e que são actualizadas anualmente.

O papel do médico de medicina geral e familiar

É conhecida a relevância dos médicos de família na gestão das doenças crónicas, não só por conhecerem os doentes e a sua história clínica, mas também por conseguirem chegar a uma opção terapêutica partilhada que é uma das chaves para o sucesso. “Muitas vezes, esta gestão e avaliação periódica que deve ser feita à pessoa com asma é um desafio nos cuidados de saúde primários. A grande dimensão de cada ficheiro que um médico de família tem de gerir, a sobrecarga burocrática (ainda agravada pela pandemia) e as restrições de tempo são barreiras frequentemente enumeradas.” Cláudia Vicente considera também que esta situação se agrava ainda mais se se tiver em conta que as doenças respiratórias não têm sido uma prioridade dos programas de saúde nacionais “e que não existe nenhuma consulta dedicada a esta área em contraponto ao que acontece com a diabetes ou a hipertensão que têm a sua periodicidade e gestão muito bem definidas”.

Um doente asmático deve frequentar consultas de reavaliação para avaliar sintomas, rever classificação, tratamento e técnica inalatória. “Actualmente, a referenciação para a pneumologia acontece maioritariamente nos casos de asma grave, uma vez que poderão ser oferecidos outro tipo de tratamentos indisponíveis nos cuidados de saúde primários e que têm dado provas de sucesso”, refere a médica de medicina geral e familiar.

O número de consultas e exames complementares necessários variam muito de doente para doente e da evolução temporal da doença. “Cabe ao clínico que está a acompanhar o caso fazer esta gestão, no melhor interesse do seu doente, tendo em vista uma asma controlada, sem sintomas e com a menor dose de medicação possível. Para o sucesso contribui também um plano terapêutico que tenha como base uma decisão partilhada entre médico e doente e que pode ganhar corpo num plano de acção escrito que todas as pessoas com asma deveriam ter” conclui Cláudia Vicente. Ao doente, é pedido que faça a sua parte e cumpra as recomendações médicas, como se fosse um membro da equipa. Com a doença devidamente controlada, contribui para o aumento da sua qualidade de vida podendo cumprir com as suas rotinas familiares e profissionais diárias sem dificuldade.

Estima-se que 43%[1] dos doentes asmáticos não têm a sua asma controlada, o que leva a que, em busca de alívio dos sintomas relacionados com a doença, recorram ao seu inalador de alívio, três ou mais vezes por semana, um indicador claro de que a asma não está controlada, colocando estes doentes em risco de terem novas crises.

A pensar nisso, a AstraZeneca lança a campanha “Quebra o Ciclo - Deixa a asma sem fôlego" com o objectivo de desmistificar esta doença com o reforço de melhor informação. Gostaria de conhecer o seu grau de dependência da medicação de alívio? Aceda ao site e responda a um questionário desenvolvido por especialistas que pretende ajudar os doentes a medir o grau de confiança dos inaladores de alívio e os riscos que esta dependência esconde.


[1] Sá-Sousa et al. Revista Portuguesa de Pneumologia 2015, 209-213