Obra de Malangatana atinge valor mais alto entre artistas lusófonos em leilão em Nova Iorque

A pintura sem título que o artista moçambicano executou em 1965 foi vendida por 7430 euros no leilão de Arte Moderna e Contemporânea Africana da Bonhams. Zulu Girl with Cocks, da sul-africana Irma Stern, atingiu o valor mais alto da sessão, acima dos 150 mil dólares.

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A obra de Malangatana foi vendida por 7430 euros BONHAMS

Uma pintura do artista Malangatana (1936-2011), relacionada com a independência de Moçambique, foi a obra a atingir o valor mais elevado, quase nove mil dólares (7430 euros), no leilão de trabalhos de artistas lusófonos realizado na terça-feira, em Nova Iorque, pela Bonhams.

As obras dos artistas moçambicanos Malangatana, Bertina Lopes, Ernesto Shikhani e do angolano António Ole foram vendidas por preços que oscilam entre os 3500 e os 7430 euros no leilão de Arte Moderna e Contemporânea Africana da Bonhams, com participantes online e por telefone e transmissão em directo pela Internet.

A descolonização era o tema de dois trabalhos do conjunto, entre os quais a referida pintura sem título de Malangatana Valente Ngwenya, datada de 1965, que foi vendida por 8925 dólares, incluindo já impostos e comissões.

“Como a maioria das pinturas de Malangatana de meados dos anos 1960, esta obra retrata as preocupações e as lutas de pessoas comuns enquanto o seu país natal, Moçambique, lutava pela independência de Portugal”, lê-se na descrição elaborada pela leiloeira. Segundo a Bonhams, Malangatana foi “uma figura proeminente” da “estética africanista”, que não escondia a íntima ligação do seu trabalho com as condições sociopolíticas de Moçambique durante as lutas pela libertação que conduziram à independência em 1975.

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A pintura a óleo Sonho no Espaço, de Bertina Lopes (Moçambique, 1924-2012), foi o primeiro trabalho a ser vendido no leilão de 50 lotes, por 6375 dólares (5300 euros). Untitled (sem título), obra do artista angolano António Ole, nascido em 1951, foi leiloada por 5100 dólares (4245 euros), valor final.

Já a Libertação dos Povos Negros, pintura datada de 1974 do moçambicano Ernesto Shikhani (1934-2010), foi vendida por 4200 dólares (3500 euros), valor que não reflecte ainda os impostos e comissão para a leiloeira. “Na altura da execução deste quadro, acabava de ser negociado um cessar-fogo entre o partido moçambicano Frelimo e Portugal, pondo fim a uma década de violência”, lê-se na descrição da leiloeira. “Foi um momento crucial para o artista, finalmente livre das amarras da censura colonial”, continua a Bonhams, depois de descrever um período da vida de Shikhani passado em Portugal, sob o olhar e a censura da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE). A data da obra remete para a queda da ditadura portuguesa, em 25 de Abril de 1974.

Shikhani foi, à semelhança do seu compatriota Malangatana, parte de um grupo de artistas proeminentes que “desempenhou um papel fundamental no alargamento da reciprocidade estética entre África, Europa e Estados Unidos”, segundo a Bonhams.

A obra mais cara vendida no leilão ultrapassou os 150 mil dólares (125 mil euros), e foi a pintura Zulu Girl with Cocks (1954), da artista sul-africana Irma Stern (1894-1966). A pintura que retrata, de perfil, uma menina zulu com galos, é, para a Bonhams, uma “explosão de energia extravagante que atribui extraordinária presença e poder ao jovem sujeito feminino”.

O leilão contou com numerosos trabalhos do artista etíope Alexander Skunder Boghossian (1937--2003), entre os quais se destacaram A Grande Laranja, vendida por mais de 95 mil dólares (79 mil euros).

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