Jornalista japonês acusado de difundir notícias falsas na Birmânia

Yuki Kitazumi é o primeiro jornalista estrangeiro a ser acusado pelas autoridades birmanesas. Tinha sido detido no dia 19 de Abril e aguarda agora pelo julgamento.

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Protestos em Rangum contra o golpe militar de Fevereiro NYEIN CHAN NAING/EPA

Yuki Kitazumi, um jornalista japonês detido na Birmânia há duas semanas, foi acusado formalmente de difundir “notícias falsas”, informou a embaixada do Japão em Rangum.

Kitazumi é, assim, o primeiro jornalista estrangeiro a ser formalmente acusado pelas autoridades birmanesas, juntando-se a 25 jornalistas locais que já foram condenados após o golpe militar do dia 1 de Fevereiro.

Jornalista freelancer e dono da agência de comunicação Yangon Media Professionals, Yuki Kitazumi publicava artigos e vídeos sobre os protestos pró-democracia quase diários desde o golpe, bem como sobre os efeitos do golpe na população, nas suas redes sociais e na imprensa japonesa. Fora detido no dia 18 de Abril na sua casa, em Rangum, depois de uma operação que envolveu cerca de 50 militares e polícias, segundo a agência japonesa NHK.

Desde então tem estado na prisão de segurança máxima de Insein - conhecida por alojar os vários presos políticos, incluindo a líder de facto do país, Aung San Suu Kyi. Na segunda-feira, foi acusado formalmente sob o código penal da Birmânia.

A secção em causa do código, que foi actualizado pela Junta Militar, proíbe publicações que “causem medo” ou difundam “notícias falsas” e a sua transgressão pode levar a uma pena de prisão máxima de três anos.

O jornalista de 45 anos aguarda agora um julgamento, pelo que a sua detenção deverá prolongar-se.

As autoridades militares birmanesas não avançaram mais detalhes, contudo, e não responderam a pedidos de comentários, segundo disse à Reuters um funcionário da embaixada japonesa que não quis ser identificado.

As autoridades japonesas e colegas seus jornalistas disseram que vão continuar a apelar à sua libertação e garantiram que ele está bem de saúde, apesar de ainda não terem sido autorizados a visitá-lo.

“Não tenho sido tratado de forma imprópria”, afirmou Kitazumi aquando do primeiro contacto directo que estabeleceu com o embaixador Ichiro Maruyama por telefone, uma semana depois da sua detenção, segundo o Japan Times.

Pouco depois da sua detenção, o ministro da Presidência do Japão, Katsunobu Kato, assegurou que Tóquio continuará “a pedir ao lado birmanês a sua libertação antecipada, enquanto fazemos o nosso melhor para a protecção dos cidadãos japoneses naquele país”, cita a Associated Press.

Yuki Kitazumi já tinha sido detido no dia 26 de Fevereiro enquanto cobria um protesto, mas esteve apenas um dia sob custódia.

Desde que a Junta Militar depôs o Governo civil liderado pela Liga Nacional para a Democracia, de Suu Kyi, alegando fraude nas eleições de Novembro, que a liberdade de imprensa no país tem sido posta em causa, com o encerramento de diversos órgãos independentes e a retirada de várias licenças. Já 80 jornalistas foram detidos ao todo, dos quais 50 permanecem na cadeia.

O acesso à Internet tem também sido restringido, dificultando a comunicação entre as organizações de ajuda humanitária e, consequentemente, o seu acesso ao país.

Da crise já resultaram mais de 750 mortos, grande parte civis que têm saído à rua nos protesto que continuam quase diariamente, com manifestações esta terça-feira nas cidades de Mandalay e de Kachir. Actualmente há cerca de 3600 detidos, incluindo Suu Kyi, Prémio Nobel da Paz em 1991.

Na semana passada, o general Min Aung Hlaing, líder da da Junta Militar, participou, pela primeira vez, numa cimeira da Associação de Nações do Sudeste Asiático, onde foi apresentado um plano com vista a acabar com a crise no país e a violência contra os civis.

Texto editado por Sofia Lorena

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