Crimes de extrema-direita atingem recorde na Alemanha

Ministério do Interior indica crescimento de crimes, com um total de 23.064 delitos. Investigador diz que não se trata de uma tendência repentina.

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Horst Seehofer, ministro do Interior da Alemanha MAJA HITIJ/EPA

O número de crimes cometidos por elementos da extrema-direita aumentou na Alemanha, atingindo em 2020 um recorde desde que os dados começaram a ser recolhidos, em 2001. No ano passado registaram-se 23.064 crimes da extrema-direita, que foram mais de metade do total de crimes com motivação politica cometidos no país, que incluíram 11 assassínios e 13 tentativas de assassínio.

O total de crimes com motivação política foi de 44,692, o que representa um crescimento de 8,54 por cento face ao ano anterior.

A extrema-direita é, de novo, considerada a maior ameaça no país. Este ano, o ministro do Interior, Horst Seehofer, voltou a repetir este dado, e declarou que “os números são muito assustadores principalmente porque há uma tendência estabelecida nos últimos anos”.

O ministro do Interior disse ainda que “durante a pandemia foi observado um aumento da polarização da discussão política”. E notou “uma tendência para a brutalização” na Alemanha.

Entre os crimes violentos, Seehofer lembrou casos recentes como o assassínio de nove pessoas em bares de shisha (narguilé) na cidade de Hanau, ou um ataque em que um sírio esfaqueou um casal homossexual em Dresden, em que um deles morreu.

Entre os crimes da extrema-direita, 85% são crimes de propaganda, incitamento e insulto.

No relatório é ainda notado um aumento dos crimes anti-semitas, que foram quase exclusivamente perpetrados pela extrema-direita, que tem o anti-semitismo como componente fixo da sua ideologia, considerou Seehofer. “Esta evolução é não só muito preocupante como profundamente vergonhosa no contexto da nossa história”, disse ainda o ministro.

Apesar das subidas, o investigador de extremismo Oliver Decker considerou ao jornal Die Zeit que estes números não representam um desenvolvimento repentino. Decker diz que houve duas fases de radicalização entre a extrema-direita alemã.

Uma em 2015-2016, quando houve uma série de pessoas que passaram de nunca terem atraído a atenção sequer por irregularidades menores, como andar nos transportes sem título válido e de repente terem começado a levar a cabo acções violentas (em 2016, registaram-se uma média de 10 ataques por dia a locais onde estavam alojados requerentes de asilo e refugiados, segundo dados do Ministério do Interior). São entre 7% a 8% da população que desde então dizem que estão prontos a usar violência.

Num segundo momento houve, nesse grupo, “uma radicalização dentro da violência”. “A preocupação entre o nosso círculo de colegas”, continuou o investigador, “é que temos de contar com uma radicalização e um aumento de ataques, atentados terroristas”, declarou.

Na apresentação do relatório, o ministro do Interior destacou ainda o movimento de negacionistas da pandemia, que se auto-intitulam Querdenken (pode ser traduzido como “pensar fora da caixa”), em cujas manifestações tem havido agressões a responsáveis de organismos, jornalistas e polícias. “São um movimento contra a nossa ordem constitucional”, disse Seehofer, notando que este movimento, e outros que surjam neste quadrante, estão a ser alvo de monitorização cuidada.

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