Grandes devedores eram “um abcesso” no Novo Banco, diz antigo presidente

Stock da Cunha liderou o Novo Banco depois de Vítor Bento e antes de António Ramalho. O gestor explicou por que permitiu ao grupo da família Moniz da Maia reestruturar a dívida sem o executar.

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LUSA/MÁRIO CRUZ

Eduardo Stock da Cunha explicou, esta terça-feira, no Parlamento que um dos grandes devedores da instituição financeira, a Sogema, não foi executada porque estava em negociação uma tentativa de obter o reembolso ou de reforçar a garantia associada ao crédito. O antigo líder do Novo Banco classificou mesmo clientes como a Sogema ou a Ongoing de um “abcesso” que o banco herdou.

O ex-presidente do Novo Banco explicava assim aos deputados da comissão parlamentar de inquérito ao Novo Banco as razões pelas quais não foram executados grandes devedores durante o período em que esteve à frente do banco, entre Setembro de 2014 e Julho de 2016. 

O Novo Banco herdou um crédito da empresa Sogema, liderada pela família Moniz da Maia, que deixou uma dívida ao banco superior a 500 milhões de euros. O administrador da empresa, Bernardo Moniz da Maia, que na semana passada esteve na comissão de inquérito, confirmou as várias reestruturações que foram sendo feitas ao crédito sem que no fim o Novo Banco tivesse sido reembolsado. 

Questionado sobre por que razão não executou o devedor, Stock da Cunha disse que “estava em negociação a tentativa de obter o reembolso ou uma garantia negocial” e apresentou a estratégia de “esgotar as possibilidades” de recuperação que um banco tem perante um devedor. No entanto, garantiu que, apesar das reestruturações da dívida de Moniz da Maia, a situação quando deixou a liderança do Novo Banco não era pior. “O que fiz até 31 de Julho de 2016 não diminuiu a possibilidade de reembolso”, assegurou. 

Stock da Cunha disse aos deputados que foi possível perceber em pouco tempo que havia um conjunto de devedores com créditos elevados que era perceptível que apresentavam uma situação difícil. As imparidades foram sendo feitas “à medida que verificávamos que os business plans levantam dúvidas”.

Prazo de vida: um a três meses 

O ex-líder do Novo Banco disse ainda que quando chegou ao banco, este tinha uma almofada de 700 milhões de euros e uma previsão de vida entre um a três meses. 

“Quando cheguei ao Novo Banco quase só tive tempo de olhar para a liquidez”, disse, acrescentando que o futuro da instituição na altura era “muito incerto”. 

“A disponibilidade que existia era de 700 milhões de euros. Quando se tem apenas uma almofada de 700 milhões de euros e quando estavam a sair entre 10 e 40 milhões por dia [em depósitos], [o banco] teria entre um mês e três meses de vida”. 

Stock da Cunha afirmou desconhecer que o Novo Banco estava nesta situação. “Não sabia, mas mesmo que soubesse teria ido à aventura”, adiantou. 

A primeira preocupação foi a liquidez, mas depois “a meio da viagem” descobriram que o orçamento do banco não era real já que havia a prática, que já vinha do tempo do BES, de juros que eram anulados. Ou seja, “a margem financeira” assumida no orçamento não era real.

O gestor lembrou que o Novo Banco “conseguiu recuperar” depósitos e falou das dificuldades em perceber a situação dos activos que constavam do balanço. Lembrou que no seu mandato foram criadas provisões num valor entre 2300 e 2400 milhões de euros.

Stock da Cunha salientou várias vezes que o mais importante é que o Novo Banco sobreviveu, apesar do “abcesso” que tinha com devedores como a Sogema e a Ongoing – os casos de grandes devedores em que, considerou, a tentativa de recuperação das dívidas não correu bem. E desligou-se da tentativa de processo de venda que ocorreu em 2015 e que falhou, sublinhando que essa não era a sua função. 

Eduardo Stock da Cunha liderou o Novo Banco entre Setembro de 2014 e Julho de 2016. Sucedeu a Vítor Bento e antecedeu António Ramalho, que é presidente executivo do Novo Banco até hoje.

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