Saúde – o barato pode sair caro

Na área da Saúde, não se pode alegar indiferença face à mudança de paradigma que as medidas implementadas pelo município de Cascais comportam.

Pode concordar-se ou discordar-se, no todo ou em parte, com as medidas implementadas pelo município de Cascais na área da Saúde, não se pode é alegar indiferença face à mudança de paradigma que comportam. Pela pedrada no charco nas águas palustres, inquinadas pela pandemia infeciosa, os organismos municipais devem ser felicitados. Justifica-se, pois, conhecer e analisar o programa sanitário em pormenor, consultando o site: Vida Cascais.

Crítico face a algumas soluções encontradas para resolver os constrangimentos no acesso a cuidados de saúde da parte dos munícipes, agora agravados pela pandemia, enaltece-se o facto de a autarquia não se resignar ao stato quo nacional, procurando soluções que ajudem a resolver um dos principais problemas das populações: o acesso a cuidados de saúde.

Não descurando, a montante, todo um conjunto de medidas preventivas, da alimentação ao lazer, que evitam ou retardam no tempo a necessidade de cuidados curativos, são apresentadas medidas conducentes ao acesso a consultas da especialidade aos 23 mil munícipes no concelho ainda sem médico de família (projeto bata branca), ou a teleconsultas e a alguns meios complementares de diagnóstico (projeto cabine de saúde), para os residentes no concelho sem médico de família ou, tendo-o, que penam para conseguir consultas de especialidade hospitalar a tempo e horas.

A solução mais inovadora e disruptiva, também a mais polémica em meu entender, são as consultas de telemedicina realizadas em cabines para o efeito. Desenvolvidas numa parceria da autarquia com a seguradora Médis, a cabine procura replicar um consultório médico. Realizando consultas à distância por vídeo chamada e acedendo a um conjunto de meios complementares de diagnóstico realizados na hora, o médico “virtual” pode também prescrever medicação ou solicitar a realização de exames adicionais (onde, pagos por quem, não descortinei).

O acesso à cabine, requer, entre outras condições, a adesão do munícipe a um seguro de saúde em que o tomador é a Câmara Municipal de Cascais.

Quem são estes médicos que fazem consultas à distância por vídeo chamada? Depreende-se que são contratados pela seguradora Médis, mas não se percebe se são especialistas em medicina familiar ou médicos indiferenciados. Seja qual for a sua qualificação, estamos a falar de uma medicina de “toca e foge”, uma vez que não assegura qualquer continuidade assistencial, limitando-se a procurar resolver momentaneamente um problema de saúde ou, se o médico da Médis entender que a situação é grave, a enviar o doente ao cuidado do Serviço Nacional de Saúde.

Concorde-se ou não, medidas desta natureza a expensas da autarquia têm custos difíceis de suportar pela maioria das câmaras. Estamos a falar de uma das autarquias mais ricas do País. Seja como for, se a iniciativa Cascais tiver o mérito da “rebeldia” levando ao repensar da articulação de cuidados assistenciais, nomeadamente à criação de novas interfaces entre setores do SNS, só por isso valeu a pena.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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