Ilha do Pico revela o seu “património gastronómico”

A “ilha montanha” é palco, desta segunda a sábado, do projecto Património Gastronómico da Ilha do Pico. A iniciativa da Câmara Municipal da Madalena que visa “valorizar” o património cultural e gastronómico da ilha açoriana.

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Manuel Roberto / Publico
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“Este projecto tem como principal alavanca a profunda convicção de que qualquer perspectiva de abordagem a um desenvolvimento sustentável tem que ser assente na valorização dos bens que se inscrevem enquanto património local e identitário de uma comunidade e de representar algum travão aos malefícios da globalização que se aplica em tanto das nossas vidas”, declara à agência Lusa o presidente da autarquia, José António Soares.

O autarca considera que se pretende “resgatar e generalizar algo que tende a tornar-se residual e que poderá traduzir-se em imensos benefícios para a comunidade, seja pelos hábitos de consumo mais sadios e de acesso à base cultural, seja pelo imenso impacto positivo que poderá ter no incremento e diversificação da actividade económica, neste último caso, transversal a todos os sectores de actividade”.

O presidente da Câmara Municipal da Madalena está convicto que a actividade turística e a oferta turística do Pico em particular “serão dos primeiros beneficiados do sucesso desta iniciativa”.

Para o autarca, está-se “perante a mudança comprometida do paradigma da procura turística, na qual, é sabido, o Pico tem procurado encontrar um posicionamento distinto e o que é certo é que a actual conjuntura de pandemia obrigou à procura de novos caminhos ou até incremento do que já estava a ser trilhado”.

Helena Juliano, responsável técnica do inventário do património gastronómico do Pico, também em declarações à Lusa, declara que “foi necessário fazer uma pesquisa bibliográfica exaustiva, da cultura, desenvolvimento económico e enquadramento histórico da ilha do Pico e das suas gentes”.

“Foi feita uma depuração de toda a informação, por forma a compreender e ler as necessidades de subsistência deste povo, as suas dificuldades e em que medida o fluxo migratório e o tempo influenciaram a sua evolução, resultando deste conjunto de factores, hábitos e necessidades concretas, no fundo, cultura, no verdadeiro sentido da palavra”, afirma a especialista.

Helena Juliano salvaguarda que a abordagem “permitiu a identificação de espécies endógenas e produtos locais de grande valor cultural e gastronómico que apesar deste percurso continuam acessíveis e de grande interesse para a preservação dos seus valores”.

Foram recuperadas receitas perdidas “em folhas soltas e patinadas pelo tempo, aquelas que apenas permanecem na memória de quem lhes fez uso, mas têm a verdadeira identidade deste povo, e ainda a descoberta de pequenas actividades familiares, indústrias não assim identificadas, que durante anos asseguraram a subsistência de muitas famílias”.

A especialista aponta que “existem no Pico pratos únicos que não se podem encontrar em qualquer outra parte e são de difícil réplica, pelo seu modo de confecção, bastante artesanal e peculiar, pela qualidade dos seus produtos e matérias-primas, influenciadas por um clima húmido e temperado e com enorme salinidade, que lhes confere especificidades únicas”.

Este projecto surge de um trabalho desenvolvido nos últimos seis meses, com a compilação de informação sobre “alguns dos processos, produtos e pratos que traduzem uma terra, uma cultura e acima de tudo, o modo como as suas gentes foram capazes de transformar recursos e adversidades locais em cultura e modo de vida.”

A partir de segunda-feira, estarão no Pico os jovens chefs Carlos Afonso, do restaurante O Frade (Lisboa), Paulo Lourenço, do restaurante QB (Ilha Terceira), e Luís Gaspar, do restaurante Sala de Corte (Lisboa).

Estes especialistas vão com os restaurantes locais e os seus responsáveis a participar num workshop de três dias que resultará num conjunto de receitas com novas e renovadas técnicas e formas de apreciar a gastronomia do Pico.

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