Partido de Modi falha objectivo nas eleições regionais na Índia

Eleições em cinco estados indianos ocorreram num contexto de descontrolo da pandemia da covid-19 em todo o país. BJP não conseguiu chegar ao poder em Bengala Ocidental.

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Apoiante do Congresso Trinamool de Toda a Índia celebra vitória eleitoral em Bengala Ocidental PIYAL ADHIKARY / EPA

O partido do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, sofreu uma derrota nas eleições para o governo do estado de Bengala Ocidental, o quarto mais populoso e um dos poucos em que o partido Bharatiya Janata (BJP) não está no poder.

Os resultados deram uma maioria confortável ao Congresso Trinamool de Toda a Índia, um partido com grande implantação no estado, que garantiu 216 lugares no parlamento regional, num total de 292. O BJP, que esperava chegar ao poder em Bengala Ocidental, alcançou 74 lugares, melhorando, apesar de tudo, o resultado alcançado há cinco anos, quando conseguiu eleger apenas três parlamentares.

A derrota do BJP está a ser interpretada como uma penalização do Governo de Modi pela má gestão da pandemia. Nas últimas semanas, que coincidiram com a votação, a Índia tem registado números muito elevados tanto em termos de casos de infecção como de mortes. Entre sábado e domingo houve 3689 mortes, o número diário mais alto desde o início da pandemia, e os especialistas notam que os dados reais podem ser ainda mais elevados dada a enorme subnotificação de casos. Ao todo, morreram mais de 215 mil pessoas na Índia por causa da covid-19.

O Governo está a ser responsabilizado por não ter tomado medidas de prevenção que evitassem o descontrolo da pandemia, que também está a deixar o sistema de saúde perto do colapso. A Reuters revelou no sábado que as autoridades tinham sido alertadas no início de Março para o aparecimento de uma nova variante do vírus, mais contagiosa, mas mantiveram as medidas já em vigor.

A decisão de autorizar comícios políticos para as eleições regionais, bem como festivais religiosos que juntaram milhões de pessoas entre Março e Abril, é vista hoje como um erro.

No entanto, a derrota do BJP – que interrompe uma série de ganhos a nível nacional e regional que estavam a tornar o partido nacionalista hindu hegemónico na política indiana – em Bengala Ocidental é também explicada por factores específicos. Mais do que na resposta à crise sanitária, a campanha eleitoral girou em torno do tratamento dado à minoria muçulmana, que naquele estado corresponde a mais de um quarto da população.

A retórica xenófoba e nacionalista do BJP poderá ter afastado o eleitorado mais moderado, que preferiu voltar a depositar a confiança em Mamata Banerjee, líder do Congresso Trinamool, que foi reconduzida ao terceiro mandato consecutivo como chefe do governo regional de Bengala Ocidental – a única mulher à frente de um estado indiano.

“Tivesse o BJP vencido Bengala e isso seria visto como uma validação da sua abordagem nacional à covid-19. Não podemos fazer o mesmo erro oposto”, disse ao Guardian o professor de Ciência Política da Universidade de Ashoka, Vinay Sitapati, que interpreta a derrota do partido de Modi como uma “combinação de factores locais duradouros”.

Houve eleições noutros quatro estados menos populosos, com destaque para a vitória do BJP em Assão, onde já se encontrava no poder. Em Kerala, o caminho estava aberto para a recondução da coligação de esquerda que já governava o estado, onde a aliança liderada pelo BJP não conseguiu eleger qualquer deputado.

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