Número de telemóvel pessoal de Boris Johnson tem estado público na Internet há 15 anos

Desde 2006 que o número de telemóvel privado e, aparentemente, ainda actual do primeiro-ministro do Reino Unido tem estado ao alcance de qualquer um.

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Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido POOL/Reuters

“Por favor tente novamente mais tarde”, é a mensagem de voz com que muitos se tiveram de contentar esta sexta-feira ao tentarem chegar ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Foi revelado na quinta-feira à noite que o seu número de telemóvel privado estava público, na Internet, há 15 anos, pelo que a unidade de segurança do país alerta para um crescente risco de intercepções e ameaças de grupos criminosos.

Desde que Johnson, na altura “secretário de Estado-sombra”​ para a Educação, cedeu o seu número pessoal em 2006 numa conferência de imprensa, aparentemente não mais parou de o usar até aos dias de hoje. O número parece já ter sido, entretanto, desligado, mas o número 1o de Downing Street ainda não confirmou se Johnson vai trocar efectivamente de número, noticia a imprensa britânica.

Na semana passada, o Governo britânico abriu um inquérito interno para investigar a divulgação de uma troca de mensagens entre o primeiro-ministro conservador e o milionário James Dyson, realizada através do seu telefone privado. Na conversa, Dyson pedia uma isenção de impostos para o staff da sua empresa poder produzir ventiladores no Reino Unido e equipar o serviço nacional de saúde britânico.

Johnson refuta as acusações de lobbying que lhe foram apontadas, mas a recente descoberta que mostrou que o seu número privado tem estado ao alcance de qualquer pessoa levantam ainda mais suspeitas “não só sobre quem tem o número mas também quem o tem utilizado”, considera o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, comentando um caso que diz ser “grave" e “que comporta um risco de segurança”.

“Aquilo que tem surgido nas últimas semanas trata-se de acesso privilegiado – aqueles que podem enviar uma WhatsApp ao primeiro-ministro a pedir favores – e isto é mais uma prova de que existe uma regra para eles e outra regra para todos os outros”, acrescentou ainda, segundo a BBC, que recebeu críticas esta sexta-feira de um ministro a dizer que estava a “publicitar o facto” de que o número de Johnson tem estado de acesso livre, depois de o site cor-de-rosa, Bitchpop, o ter divulgado em primeira mão.

Ainda que os ministros recebam um número oficial ao chegarem ao cargo, podem escolher manter os números pessoais se assim o desejarem. Simon Case, secretário-geral do Cabinet e responsável pelos funcionários públicos do Governo, já teria aconselhado Johnson, na semana passada, a mudar o seu número de telefone.

“Não entramos em pormenores dos conselhos fornecidos entre um secretário de gabinete e um primeiro-ministro, e por isso não o vou fazer neste caso”, defendeu a porta-voz de Johnson, de acordo com o Guardian.

A segurança nacional em risco

O ex-conselheiro da Segurança Nacional, Peter Ricketts disse à BBC que tomava a decisão de mudar o número privado de um primeiro-ministro logo no princípio do mandato, por uma “precaução elementar de segurança nos dias de hoje” e como forma de evitar que contactos directos pudessem pôr em causa a sua credibilidade política.

Ricketts chamou à atenção para que as chamadas telefónicas conduzidas pelo primeiro-ministro, que é considerado como “incrivelmente acessível” pelo seu ministro das Finanças, possam conter “conteúdo sensível” e dar azo a “favores, ou vantagens fiscais, ou conversas com líderes estrangeiros”. Estando o número público, não descarta também a possibilidade de haver intercepções por parte de terceiros.

“Isto deve aumentar o risco de poderem escutar pelo menos algumas das comunicações que estão a decorrer, e possivelmente também outros actores não estatais, como gangues criminosos sofisticados”, disse.

Victoria Atkins, secretária de Estado do Interior e membro do partido do Governo de Johnson, garante que o primeiro-ministro “conhece as suas responsabilidades” no que toca à segurança nacional e que lhe dá “confiança total e absoluta”.

Também Simon Case assegurou que os ministros têm “pacotes de segurança em torno de todas as suas comunicações, seja qual for o meio”. Ainda assim, críticos referem ser essencial que Boris Johnson passe a estar mais seguro a nível digital, em prol do “seu próprio interesse”.

Texto editado por António Saraiva Lima

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