Governo escocês recusa antecipar referendo sobre a independência

Primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, reafirma que está focada no combate à pandemia em 2021 e 2022, em resposta às pressões do seu antecessor, Alex Salmond.

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Sturgeon defende que a prioridade do seu Governo é o combate à pandemia e a recuperação da economia RUSSELL CHEYNE/Reuters

Um novo referendo sobre a independência da Escócia não vai acontecer antes de 2023, até que a pandemia de covid-19 esteja sob controlo e a economia dê sinais de recuperação, afirmou a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, esta sexta-feira.

A líder do Partido Nacional Escocês (SNP, independentista) respondeu assim ao repto lançado pelo seu antecessor, Alex Salmond, que fundou um novo partido independentista para acelerar o processo de convocação de um referendo.

“Não vou propor a realização de um referendo neste momento, e de certeza que não vou propor um referendo enquanto o país estiver a lidar com a crise de covid-19”, insistiu Sturgeon em declarações à BBC Radio 4.

“Se for reeleita na próxima semana, vou concentrar-me em continuar a gerir os efeitos da pandemia para entrarmos numa fase de recuperação”, disse a chefe do governo escocês, referindo-se às eleições legislativas marcadas para 6 de Maio.

“Alguns dos meus críticos no movimento pela independência dizem que estou a ser muito cautelosa, mas acho mesmo que é bom ser-se cauteloso quando estamos a falar de uma crise sanitária e do futuro do país.”

Segundo as sondagens, as eleições da próxima quinta-feira vão determinar um reforço da maioria do SNP no parlamento escocês, a rondar os 50%.

Para Sturgeon, uma maioria simples do SNP reforçará a causa a favor de um novo referendo, depois de 62% dos escoceses terem rejeitado o “Brexit” em 2016.

As sondagens sobre a independência na Escócia também confirmam a ideia de que a causa está mais forte do que nunca. Depois da vitória do “não” no referendo de 2014, com 55% dos votos, o “sim” tem-se mantido no topo das sondagens no último ano.

Pressão de Salmond

Mas o calendário de Sturgeon foi posto em causa por Salmond – o ex-primeiro-ministro escocês que foi proscrito pelo SNP por acusações de assédio sexual, em 2019, e que foi ilibado das acusações por um tribunal e uma comissão parlamentar.

Em Março, Salmond anunciou a criação de um novo partido independentista – o Alba, a designação gaélica escocesa para “Escócia” –, numa jogada para aproveitar as particularidades do sistema eleitoral escocês e reforçar o número de deputados independentistas no parlamento.

“Logo após a formação de um novo Governo escocês, os seus representantes devem iniciar as negociações com Westminster para a realização de um referendo e sobre os termos da independência”, lê-se no programa do Alba, que promete apresentar uma moção nesse sentido se conquistar representação parlamentar nas eleições da próxima semana.

Nos termos da lei, o parlamento escocês não tem competência para legislar sobre matérias reservadas ao Parlamento nacional, em Londres, nomeadamente sobre questões relacionadas com a “união dos reinos da Escócia e de Inglaterra”, pelo que necessita de autorização de Westminster e do Governo para agendar nova consulta secessionista.

De acordo com o programa do SNP, o partido compromete-se a realizar um novo referendo até ao final de 2023, se vencer as eleições na próxima semana.

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