Carvalheiras vai ser o próximo ponto de (re)encontro com Bracara Augusta

Município vota segunda-feira o concurso para a musealização de todo um quarteirão de Bracara Augusta. À volta da Insula das Carvalheiras vai nascer um pequeno parque urbano.

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Imagem tridimensional simulando o recinto das Carvalheiras após as obras.

O projecto já tinha sido apresentado em 2019. Faltava concretizá-lo. Quase quatro décadas depois das primeiras escavações levadas a cabo pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, o município de Braga prepara-se para lançar o concurso para a musealização das ruínas de um quarteirão inteiro da outra cidade, a romana, que por ali existiu no início do outro milénio. Ao todo vão ser investidos 2,7 milhões de euros num projecto que tem a coordenação científica da arqueóloga Manuela Martins e que deverá demorar 18 meses a ser construído.

A Insula (quarteirão) das Carvalheiras é um importante legado de Bracara Augusta que se junta à fonte do ídolo, às antigas termas (das quais se avista parte do antigo teatro da cidade fundada por Augusto pouco antes da nossa era) e a outros espaços, incluindo o Museu D. Diogo de Sousa. No núcleo central de Braga, por cada cavadela os achados surgem como minhocas, e se muito desse passado foi estragado pelo ímpeto desenvolvimentista do pós-25 de Abril, o que foi sendo preservado nestas décadas constitui, no conjunto, uma importante fonte de informação sobre a antiga capital provincial e, também, um elemento de atractividade, no turismo cultural. Que já vale, só por si, um roteiro. 

Em comunicado, o vereador com o pelouro do Património, Miguel Bandeira assinala, precisamente, que a cidade “passará a dispor de uma ampla área patrimonial musealizada e aberta ao público, que constituirá um equipamento de grande valor histórico e cultural, verdadeiramente emblemático da origem romana de Braga, capaz de ajudar a reforçar a sua identidade e a diferenciar a oferta cultural”. Para além disso, o espaço, localizado na Sé, não muito longe das Termas e do Museu D. Diogo de Sousa, terá um centro interpretativo, e ficará integrado num pequeno parque verde de acesso público.

Durante quase duas décadas, entre 1983 e até 2001, o local foi sucessivamente escavado e estudado pela Unidade da Arqueologia da UM, organismo do qual Manuela Martins, actual vice-reitora desta universidade, foi directora. O que ali se descobriu foi um quarteirão residencial da cidade romana, delimitado por ruas ladeadas de pórticos, e até com elementos dos restantes quatro quarteirões com os quais confrontava. Sabe-se que a casa foi objecto de várias remodelações, e no século II parte dela, situada no lado noroeste do quarteirão, foi mesmo transformada em balneário público. Outras áreas foram também reconfiguradas, para serem usadas como lojas.

A ínsula das Carvalheiras foi descoberta quando a junta de freguesia da Sé projectava para o local a construção de uma escola. E desde o fim das escavações, em 2001, as únicas intervenções no local têm sido apenas de limpeza e consolidação, à espera de um projecto de musealização que já estava a ser planeado desde meados da década passada. Na altura, responsáveis pela arqueologia na cidade alertavam para o facto de se estar perante “um tesouro de uma extrema fragilidade”, acelerada pela exposição das ruínas aos elementos ambientais, o que provoca, naturalmente algum desgaste. 

A viagem até aos tempos em que esta parte da cidade romana estava habitada vai ser feita com apoio de recursos multimédia, que guiarão o visitante desde o exterior do recinto até ao seu interior, que ficará protegido por um edifício que replica o original. E não faltará, como seria de esperar, um enquadramento deste local com outros sítios romanos da cidade, alguns deles também visitáveis. Lançado o concurso, resta saber quando, efectivamente, começará obra, que em 2019 se previa que estivesse concretizada este ano, o que não acontecerá. Com os prazos previstos, não espantaria que a sua inauguração ocorresse em 2023, ano em que se celebram 40 anos desde as primeiras escavações no local.

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