Moniz da Maia atira ao Novo Banco: “Não compreendo” venda da dívida por 10% do valor

Pediu um empréstimo ao BES para comprar acções no BCP, ficou como devedor ao Novo Banco e agora tem a dívida num fundo. Moniz da Maia criticou a forma como o Novo Banco geriu a dívida da família.

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LUSA/MÁRIO CRUZ

O administrador do grupo Moniz da Maia, Bernardo Moniz da Maia, disse esta sexta-feira no Parlamento não perceber por que razão o Novo Banco vendeu a dívida do grupo por um preço equivalente a 10% do seu valor. Moniz da Maia foi um dos grandes devedores do Novo Banco, que recebeu do BES uma dívida de 368 milhões de euros que o grupo contraiu para financiar a compra de acções no BCP. 

“Não compreendo que o Novo Banco tenha vendido a dívida da família Moniz da Maia por 10% do valor”, afirmou, acrescentando que “por várias vezes fizemos propostas superiores”, lançando assim dúvidas sobre a perda que o Novo Banco teve de enfrentar por causa desta opção. “Fizemos uma proposta concreta perto da ordem de 100 milhões de euros pagos em 15 anos”, acrescentou.

O administrador, que por várias vezes não conseguiu dar aos deputados as informações solicitadas, disse ainda que não receberam resposta do Novo Banco face a propostas que foram fazendo ao longo do tempo de reestruturação da dívida. Mas a deputada do BE Mariana Mortágua citou uma acta do conselho de administração do banco em que a família Moniz Maia não aceitou as condições da instituição. Moniz da Maia defendeu que a recusa na prestação das garantias pedidas aconteceu porque a exigência ainda ficaria pendente do aval do Fundo de Resolução.

A dívida foi contraída junto do BES, passou para o Novo Banco que se desfez dela. “Estou aqui como devedor de um fundo não português”, declarou, o que levou mais tarde o deputado Fernando Anastácio do PS - e relator da comissão de inquérito - a perguntar a Bernardo Moniz da Maia se sente devedor do Novo Banco. Moniz da Maia repetiu: “Fomos devedores do BES, passamos a ser do Novo Banco e hoje de um fundo”. Admitiu que se sente “moralmente” responsável pela dívida e lamentou que não tenha sido possível chegar a uma solução para pagar a dívida.

O administrador garantiu que a empresa quis “desde sempre” honrar os seus compromissos. Perante os deputados da comissão parlamentar de inquérito ao Novo Banco afirmou que dos 368 milhões de euros de dívida foram pagos “cerca de 69 milhões de euros, com juros de 50,4 milhões de euros”. A este valor de dívida juntaram-se 137 milhões de euros para financiar um projecto de investimento. O incumprimento do grupo começou em 2014, avançou, depois de terem sido permitidos adiamentos sucessivos no pagamento. 

A dívida do grupo Sogema, a empresa da família Moniz da Maia, foi vendida ao fundo Davidson Kempner (DK) no projecto Nata II em 2019. A dívida da família ascendia a 560 milhões de euros, representando 26% do projecto, indicou o deputado do PSD Hugo Carneiro. ​

Moniz da Maia lamentou ainda a má publicidade que prejudicou os negócios do grupo, dificultando o pagamento das dívidas. “Toda a publicidade negativa assim como a divulgação de créditos malparados criou problemas”, afirmou. Lamentou também que o Novo Banco “incompreensivelmente” tenha tirado à empresa a operacionalidade de um investimento feito no Brasil que era considerado fundamental para o reforço da capacidade para o pagamento da dívida.

O administrador disse que a resolução do BES causou “incómodo” no Brasil, onde o banco tinha negócios, mas admitiu que as notícias sobre o seu envolvimento com a justiça - chegaram a sair notícias dando conta que estaria a ser procurado pela Interpol, contou - não ajudaram na reestruturação da dívida da família. 

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