EUA estão a “transformar a crise em oportunidade”, garante Biden

“Temos de provar que a democracia ainda funciona”, defendeu o Presidente dos Estados Unidos no seu primeiro discurso ao Congresso, prestes a cumprir os primeiros 100 dias na Casa Branca.

Foto
Joe Biden, a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, e a presidente da Câmara dos Representantes Reuters

“A América está outra vez a avançar”, disse Joe Biden. “Não podemos parar agora”, afirmou, pedindo por isso apoio para os seus planos bilionários que visam expandir o Estado social. Ladeado por duas mulheres, a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e a sua vice-presidente, Kamala Harris, uma imagem inédita na história do país, o Presidente dos Estados Unidos fez o seu primeiro discurso no Capitólio na véspera de completar 100 dias no poder.

Passaram “100 dias desde que prestei juramento – ergui a minha mão da Bíblia da nossa família – e herdei uma nação em crise”, disse. “A pior pandemia num século. A pior crise económica desde a Grande Depressão. O pior ataque à nossa democracia desde a guerra civil”, descreveu, referindo-se ao ataque de apoiantes de Donald Trump, que a 6 de Janeiro assaltaram a própria sala onde discursava (Biden não esqueceu as ameaças internas à segurança, lembrando que “a maior ameaça terrorista letal vem hoje do supremacismo branco”).

“Agora – depois de apenas 100 dias – posso informar a nação: a América está a avançar outra vez. A transformar o perigo em possibilidade. A crise em oportunidade. Os retrocessos em força”.

Num tom muito optimista, notando que esse é o ADN do país, Biden sublinhou os 1,3 milhões de empregos criados em três meses e defendeu os progressos na luta contra a pobreza infantil. O chefe de Estado falava na mesma semana em que aumentou o salário mínimo de 390 mil trabalhadores e explicou como quer pôr o 1% mais rico a pagar a maior parte do seu plano de 1,8 biliões de dólares (1,5 biliões de euros) de combate à pobreza e à desigualdade nos EUA.

A proposta com que Biden quer tornar mais fácil o acesso à educação, melhorar os cuidados de infância a quem tem mais dificuldades e tornar a economia mais inclusiva a nível racial e de género, segue-se ao plano de investimento em infra-estruturas de 2,3 biliões de dólares apresentado no início de Abril. “Compatriotas, a economia ‘trickle down [ideia de que a redução dos impostos sobre os mais ricos acaba por originar um aumento de riqueza para os mais pobres] nunca funcionou. É o momento de fazer a economia crescer de baixo para cima”, defendeu no Congresso.

“Temos de provar que a democracia ainda funciona, que o nosso governo ainda funcionar e que podemos ajudar o novo povo”, afirmou Biden, justificando assim a sua defesa da necessidade de um governo maior e gastador face à dimensão da crise e dos desafios.

Algumas partes do discurso levaram tanto os democratas como os republicanos na sala a aplaudi-lo de pé: quando deu conta dos progressos no plano de vacinação à covid-19 ou pediu aos americanos para se vacinarem, por exemplo, foi aplaudido pelo senador republicano do Texas Ted Cruz. Bem diferente foi a reacção do partido da oposição às suas mudanças na política fiscal e social, quando Mitt Romney surgiu na imagem sentado e em silêncio. “Infelizmente, o Presidente tem muitas coisas que quer fazer, mas está a gastar como um louco”, comentou o senador republicano do Utah no comunicado depois do discurso.

Na intervenção de um pouco mais de uma hora, Biden teve tempo para afirmar que deixou claro a Vladimir Putin que os EUA responderiam a quaisquer actos de agressão da Rússia, avisando ainda que os norte-americanos estão “numa competição com a China e com outros países para ganhar o século XXI”.

Depois de terminar o discurso, Biden, que serviu como senador durante 36 anos, forjando uma reputação de moderado e centrista, em contraste com as propostas deste arranque de mandato, deixou-se ficar à conversa com muitos senadores e congressistas, tanto do Partido Democrata como do Republicano.

Sugerir correcção
Ler 10 comentários