Partilhar a esperança

O mundo precisa de partilhar. De partilhar as doses de vacinas, de partilhar os ventiladores, de partilhar o oxigénio, de partilhar os medicamentos mais básicos. O mundo precisa de uma profunda cooperação internacional que possa, sobretudo, partilhar a esperança.

Alguns países como Israel, Estados Unidos da América, Chile, Reino Unido ou Emirados Árabes Unidos têm sabido aplicar um programa intenso de vacinação das populações contra a covid-19. A vacinação e as medidas de prevenção básicas continuam a ser as únicas e melhores armas contra a pandemia provocada pelo conhecido vírus de ARN de cadeia simples SARS-CoV-2 (Coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda grave 2). Num estudo recente, 81% dos portugueses desejam ser vacinados, apesar da extensa e estranha campanha de medo que tem sido profusamente difundida sobre os efeitos adversos de algumas vacinas.

Para o SARS-CoV-2 o mundo é perfeitamente igual. Este sórdido vírus não faz distinção entre pessoas, raças, religiões, cidades, aldeias, países ou continentes. Semeia o terror nos locais que lhe são propícios e ceifa sobretudo a vida dos que não têm formas de se defender dele.

No combate global à pandemia, o mundo demonstra o pior das suas desigualdades. Há 45 países que administraram uma dose de vacina a menos de 1% da sua população, enquanto 25 países já administraram a mais de metade. Isto é, perto de dez países arrebataram 80% de todas as vacinas. Não se trata somente de desigualdade, é uma profunda e intolerável injustiça.

A única resposta a este flagelo é a solidariedade. Urge olhar o mundo como uma comunidade única e coesa, onde os mais fortes apoiam os mais fracos. Estes princípios suportam a única forma que temos de travar definitivamente esta crise sanitária de dimensão global. Um mundo desigual e desunido nunca dará a volta a esta pandemia que, diariamente, testa a nossa capacidade de união e entreajuda.

Não precisamos de individualismos egoístas, de exclusivismo no acesso aos instrumentos de combate a esta pandemia, de umbiguismo patriótico como se o destino da humanidade assentasse num único país.

O mundo precisa de partilhar. De partilhar as doses de vacinas, de partilhar os ventiladores, de partilhar o oxigénio, de partilhar os medicamentos mais básicos. O mundo precisa de uma profunda cooperação internacional que possa, sobretudo, partilhar a esperança.

Num esforço notável das últimas semanas, Portugal ultrapassou 20% da população com pelo menos a administração de uma dose vacinal. Moçambique atingiu os 0,18%; Timor os 0,2%; Cabo Verde os 0,39%. Mas estas diferenças não existem só entre países. A distribuição interna feita em vários países do Terceiro Mundo tem obedecido a regras de corrupção e iniquidade, deixando de fora as populações mais pobres e desprotegidas.

“O mundo está à beira de um fracasso moral catastrófico – e o preço desse fracasso será pago com vidas e meios de subsistência nos países mais pobres do mundo”, referia o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), pondo a nu a imoralidade impiedosa quase silenciosa que tem atravessado esta pandemia.

As iniciativas meritórias da OMS ou da COVAX (Programa de acesso global às vacinas da covid-19) para distribuir vacinas aos países mais pobres são sinais encorajadores mas ainda muito insuficientes.

Os países devem estar unidos e solidários. Partilhar a esperança também deve ser um direito inalienável do ser humano.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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