Os pobres do futebol coitados sem salvação

Nem sempre a gula desmedida é a melhor conselheira. Quando a fera abre a boca toda e mostra os dentes mete medo. Só que a desproporção entre as feras e a comunidade é tão brutal que os que lhes viram as presas arranjaram força para tapar-lhe a boca, pelo menos por agora.

Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, declarou com solenidade que avançou para a Superliga Europeia para salvar o futebol.

Para tanto juntou o banco gigante JP Morgan com outros tubarões dos oceanos da bola e associaram-se para a salvação, o que quer dizer para celebrar contratos bilionários que lhes permitiriam fazer das famosas leis do mercado uma única lei – a dos bilionários a competirem entre si, o que liquidaria tal como conhecemos a competição futebolística que, sendo embora muito desigual, envolve grandes, médios e pequenos clubes.

Durante a explicação à Cadena Ser, desenvolveu a ideia que desaguava sempre na salvação dos tubarões.

A expressão salvar o futebol é muito similar à expressão que os tubarões gigantes do mundo financeiro usam e que apenas muda o futebol pelo país.

Resgatar Portugal foi a expressão utilizada por Passos Coelho/Portas/Moedas para submeter o país aos ditames do império alemão coadjuvado por alguns altos sacerdotes do Centro e Norte da Europa.

A ideia não era resgatar Portugal, mas não podia ser declarada a real intenção. No fundo tratou-se de impedir que os investimentos dos bancos alemães, franceses e outros nos bancos portugueses não fossem ao charco, obrigando deste modo os portugueses a pagar os danos causados por negociatas privadas entre os bancos portugueses e os seus congéneres alemães e outros. Salvar os bancos e afundar os portugueses em austeridade com a descarada lata de o justificar com o facto de estes viverem acima das possibilidades.

Agora é salvar os que estão salvos; fazer deles ainda mais desiguais. Neste caso limitado ao futebol, o que Florentino e Cª (alguns destes clubes pertencem a multibilionários dos quatros cantos do mundo) se propunham era arrecadar para si fundos brutais negociados com o JP Morgan; fazer deles ainda mais desiguais em comparação com as dezenas de milhares de clubes por toda a Europa.

É a ganância impiedosa do neoliberalismo à solta cuja bússola se orienta para tornar os muito mais ricos ainda muito mais e todos os outros mais vulneráveis.

Só que nem sempre os golpes saem como o pretendido. O tsunami neoliberal tem derrubado muitos muros que defendiam interesses públicos, mas apesar disso a extravagante ideia de afastar da competição os outros clubes com menos “pedigree” financeiro mexeu com a sociedade e até com governos que veriam os seus países perder peso neste setor.

Nem sempre a gula desmedida é a melhor conselheira. Quando a fera abre a boca toda e mostra os dentes mete medo. Só que a desproporção entre as feras e a comunidade é tão brutal que os que lhes viram as presas arranjaram força para tapar-lhe a boca, pelo menos por agora.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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