População chinesa em queda pela primeira vez em sete décadas

Os dados preliminares, e não oficiais, dos censos mostram que o declínio populacional chinês é mais acelerado do que o esperado.

Foto
A China está mais perto de ser destronada pela Índia como país mais populoso do mundo TINGSHU WANG / Reuters

Pela primeira vez desde 1949, a China registou uma queda da população total do país. A notícia reflecte a tendência de declínio da natalidade, mesmo depois da flexibilização das leis que restringiam o número de filhos por casal.

Os números têm origem nos dados preliminares dos últimos censos que foram terminados em Dezembro, mas ainda não são públicos. Segundo várias fontes próximas do processo, citadas pelo Financial Times (FT), a população total chinesa terá ficado abaixo de 1,4 mil milhões de pessoas quando, um ano antes, havia superado essa marca.

Se a queda se confirmar, isso significa que os cálculos que até aqui orientavam as autoridades chinesas estavam errados e o declínio populacional é mais agudo do que se pensava. Há muito que se projectava que a China seria ultrapassada pela Índia como país mais populoso do planeta – a população indiana é de cerca de 1,34 mil milhões –, mas não se esperava que isso pudesse acontecer tão rapidamente.

“A velocidade e a escala da crise demográfica chinesa é mais rápida e maior do que imaginávamos”, diz ao FT o analista do Centro da China e da Globalização de Pequim, Huang Wenzheng, que alerta para o “impacto desastroso” da queda da população.

Uma das principais implicações está relacionada com a idade da reforma, que o Governo chinês já planeava fazer subir para garantir a sustentabilidade do sistema de pensões. Actualmente, a maioria dos trabalhadores chineses reforma-se aos 60 anos – para mulheres operárias a reforma é aos 50 anos –, mas o decréscimo da população activa e a subida da esperança média de vida ameaçam as pensões futuras, explica o New York Times.

Ao longo do século XX, a China debateu-se com o problema contrário. A elevada taxa de natalidade e o acelerado crescimento populacional deixavam milhões de famílias sem meios para se sustentar. O Governo passou a aplicar medidas altamente restritivas da natalidade, a mais conhecida das quais foi a “política do filho único”, introduzida em 1979. Só em 2015 é que passou a ser dada a possibilidade à generalidade dos casais a possibilidade de terem um segundo filho – em algumas regiões, já antes era possível ter um segundo filho se o primeiro fosse do sexo feminino.

No entanto, a correcção da política parece ter chegado demasiado tarde, com a generalidade das famílias chinesas adaptadas ao modelo do filho único. No primeiro ano após a reversão da política, o número de nascimentos subiu, mas desde então caiu acentuadamente, diz o FT.

A publicação das conclusões dos censos tem sido adiada pelo Governo central, mostrando como o tema é sensível. O Gabinete Nacional de Estatísticas disse este mês que ainda é necessário “trabalho preparatório adicional” até ser possível divulgar os números.

O Banco Popular da China lançou na semana passada um relatório em que revê em baixa a taxa de fertilidade, confirmando as expectativas de que o declínio populacional segue a um ritmo mais veloz que o esperado – de 1,8 que figurava nas estimativas oficiais, o banco central passou para menos de 1,5.

Uma das razões para os aparentes erros de cálculos poderá estar na tendência de muitos dirigentes provinciais em apresentar dados populacionais inflacionados para obter mais recursos por parte do Governo central, segundo um conselheiro governamental que quis manter o anonimato em declarações ao FT.

Sugerir correcção
Ler 6 comentários