A pegada ecológica das nossas viagens

Cerca de 60% do dióxido de carbono emitido globalmente nas estradas provém do uso de transporte individual e 81% das viagens de avião são para transporte de passageiros. Diante dos factos, e querendo reverter as alterações climáticas, a escolha é evidente.

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Paulo Pimenta

Os factos e os números não mentem: a década passada foi a mais quente desde que há registo: desde 2014 tivemos os sete anos com a maior subida de temperatura de sempre e 2016 e 2020 igualados no pódio como os anos mais quentes. 

As consequências, sobejamente conhecidas, estão bem presentes entre o degelo acelerado das calotes polares, a subida do nível dos mares, a erosão costeira, fenómenos climáticos extremos como secas prolongadas e chuvas torrenciais, incêndios sem fim, aumento da frequência e intensidade de tempestades tropicais e a perda de biodiversidade, só para enumerar alguns exemplos, tão infelizes como desnecessários, assim como desnecessário é o custo económico, social e humano advindo.

Por isso a recente Cimeira do Clima e por isso o grito de apelo: temos apenas 10 anos se queremos verdadeiramente fugir do ponto de não retorno entre o aumento descontrolado do efeito de estufa, o degelo total dos pólos e o comprometimento da vida na Terra, a mesma Terra onde habitamos e queremos continuar a habitar. 

Por não haver planeta B e porque, a haver, não existe tecnologia para lá chegar. Só nos filmes. Só na imaginação.

Para evitar este fim catastrófico, é cada vez mais urgente reduzir a pegada ecológica, vulgo a quantidade de dióxido de carbono emitido nas nossas viagens. 

Comecemos pelas viagens de avião. Se um passageiro optar por voar ida e volta de Lisboa para Barcelona, vai emitir um total de 280 quilogramas de dióxido de carbono. Se a mesma pessoa optar por fazer a viagem num carro a gasolina a consumir seis litros por cada 100 quilómetros, a emissão de carbono aumenta para 586 quilos. 

Se o mesmo passageiro optar por viajar de comboio, as emissões de dióxido de carbono diminuem para 132 quilos, uma vez de volta a Lisboa. Chama-se a isto transporte sustentável ou, no caso da viagem a Barcelona corresponder a um período de férias, ecoturismo. 

O mesmo princípio dos transportes públicos como meios sustentáveis aplica-se a viagens de curta distância quando, em cada 10 quilómetros, um carro emite 1,8 quilogramas de dióxido de carbono, mais do dobro dos 820 gramas emitidos por um autocarro. 

E em viagens mais curtas, por exemplo até três quilómetros, porque não optar pela bicicleta? Uma vez de volta a casa teremos emitido apenas 126 gramas de dióxido de carbono, quase 10 vezes menos do que os 1,08 quilos emitidos pelo carro.

Se devemos restringir as viagens de avião? Quando voar para as Maldivas é hoje quase tão grave como matar um rinoceronte, sim. Se o mesmo significa o fim das tão desejadas férias? Não. Mas as viagens vão encarecer e levar mais tempo por terra e por mar. E estão as viagens de avião limitadas para sempre? Também não, mas durante os próximos anos, sim. 

Cabe-nos decidir de modo responsável sobre o tamanho da nossa pegada e qual o impacto da mesma e que tipo de tecto queremos deixar para os nossos filhos. E, de caminho, pressionar os governos no sentido de mais investimento em transportes públicos, ciclovias, veículos eléctricos e energias renováveis.

Cerca de 60% do dióxido de carbono emitido globalmente nas estradas provém do uso de transporte individual e 81% das viagens de avião são para transporte de passageiros. Diante dos factos, e querendo reverter as alterações climáticas, a escolha é evidente.

Os ecossistemas que sustentam a vida na Terra, a nossa única casa no imenso oceano cósmico, não estão feridos de morte, mas precisam de tempo para sarar. E nós precisamos de mais tempo para desenvolver tecnologias e meios de transporte sustentáveis se queremos que um dia os nossos filhos tenham um planeta como um dia nós tivemos.

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