UTAO: Riscos do Estado com TAP, Novo Banco e PPP serão “tema incontornável” nos próximos anos

A Unidade Técnica de Apoio Orçamental diz que o Programa de Estabilidade “é parco em informação” sobre os riscos para o equilíbrio orçamental das injecções na TAP, Novo Banco e responsabilidades contingentes das PPP dos transportes e saúde.

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Unidade especializada do Parlamento alerta para "acumulação muito expressiva de riscos para o equilíbrio orçamental" no plano do ministro João Leão LUSA/ANTONIO PEDRO SANTOS

A Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) à Assembleia da República alerta que as responsabilidades contingentes, onde constam a TAP e Novo Banco, serão “tema incontornável nos próximos quatro anos” devido à acumulação “muito expressiva de riscos para o equilíbrio orçamental”.

Esta informação consta da apreciação da UTAO sobre Programa de Estabilidade 2021-2025 (PE/2021-25), a que a Lusa teve acesso.

“As responsabilidades contingentes são o tema em destaque neste relatório”, começa por sublinhar a Unidade Técnica de Apoio Orçamental, referindo que o objecto do mesmo são a estratégia orçamental e as projecções de médio prazo para a economia e as finanças públicas.

“A emergência da pandemia levou a que o Estado português tivesse de assumir responsabilidades excepcionais muito expressivas, em vários domínios, que, embora contingentes podem transformar-se em responsabilidades futuras exigíveis às Administrações Públicas”, salienta.

Entre a diversidade das responsabilidades contingentes estão as moratórias públicas e privadas, garantias públicas concedidas ao abrigo da pandemia de covid-19, as com origem em parcerias público-privadas (PPP), futuro da TAP e capitalização do Novo Banco.

“As responsabilidades contingentes são obrigações cuja materialização ou concretização como perda efectiva é tida como incerta numa determinada data” e “neste relatório apresenta-se as responsabilidades contingentes que pesam sobre as Administrações Públicas e que se podem tornar exigíveis em 2021 e nos anos seguintes”, refere a UTAO, salientando que o documento do Ministério das Finanças “é parco em informação sobre estes riscos”.

As responsabilidades contingentes “irão, muito provavelmente, ser um tema incontornável nos próximos quatro anos da vida colectiva por causa da acumulação muito expressiva de riscos para o equilíbrio orçamental ao longo do período de projecção”.

A UTAO explica que a importância deste tema “não decorre do espaço nem das qualificações encontrados no Programa de Estabilidade, aliás limitados a um pequeno quadro de reporte obrigatório à UE [União Europeia]”, mas antes “da enorme materialidade de novos passivos decorrente das medidas de política tomadas para proteger a liquidez das famílias e das empresas em 2020 e também dos compromissos assumidos e em perspectiva face aos grupos empresariais TAP e Novo Banco”.

As moratórias de crédito e as garantias de Estado a empréstimos do sistema financeiro, “assim como o futuro da TAP num contexto de recessão, enorme incerteza sobre o rumo da recuperação económica e indefinição perante os agentes envolvidos quanto à evolução do enquadramento regulatório europeu, constituem factores de preocupação a ter em conta no painel de controlo da política económica em geral, da política orçamental e da estabilidade do sistema financeiro”, salienta.

“Há ainda um conjunto de responsabilidades contingentes que podem vir a ser exigidas ao sector público decorrentes da execução de contratos de parceria público-privada”, aponta a UTAO.

“Estes passivos resultam de litígios entre as partes e pedidos de reequilíbrio financeiro das concessões”, prossegue, salientando que o valor global das contingências decorrentes de contratos de PPP “ascende a cerca de 878 milhões de euros”.

Deste montante, 368 milhões de euros dizem respeito ao sector rodoviário, 192 milhões de euros ao sector ferroviário e 48 milhões de euros ao sector da saúde.

“Existem ainda outros litígios para os quais não existe uma estimativa financeira atribuída”, considera ainda.

Relativamente às moratórias, a UTAO refere que apesar de não serem responsabilidades contingentes, podem vir a originá-las.

“Com efeito, os montantes dos empréstimos em moratória poderão tornar-se responsabilidades contingentes para o sector das Administrações Públicas no sentido em que no futuro podem ocorrer imparidades significativas nas instituições financeiras, que por sua vez registarão perdas nos rácios de capital”, explica.

Nesse sentido, “poderá ser necessária a intervenção do sector público no sentido de assegurar a reposição do capital das instituições financeiras”.

Actualmente, “não é possível prever o montante de imparidades futuras, mas é necessário reconhecer que na eventualidade de se concretizar um cenário pessimista, as imparidades poderão ter efeitos orçamentais e na dívida pública”.

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