Premier League combate abusos com boicote às redes sociais

Clubes, entidades organizadoras e associações de diferentes quadrantes juntam-se ao protesto, que passa por quatro dias de afastamento do Facebook, Twitter e Instagram.

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Reuters/MICHAEL REGAN

A partir de 30 de Abril, e durante quatro dias, não estranhe se não receber notificações ou actualizações das redes sociais dos clubes da Premier League. Não, não se trata de um bug informático pré-anunciado, nem de uma intervenção na rede. O que está em causa é um protesto transversal ao primeiro escalão do futebol inglês, mas que abarca também as divisões inferiores e a Liga feminina. Protesto contra o quê? Contra o ambiente hostil que é promovido em plataformas como o Twitter, o Facebook ou o Instagram.

O principal rastilho para esta tomada de posição têm sido as denúncias de alguns jogadores, que publicamente reportam abusos raciais e de outra índole, atirando o tema para a mesa de debate. O rastilho secundário para este entendimento na Premier League foi a decisão do Swansea City de dar o primeiro passo, quando, há três semanas, desactivou as contas nas redes sociais durante sete dias para chamar a atenção para o problema.

David McGoldrick, avançado do Sheffield United que no ano passado foi alvo de insultos raciais, aplaude a iniciativa: “Já não era sem tempo. O que tem acontecido nas redes sociais aconteceu-me a mim. Aconteceu a muitos jogadores. Alguma coisa tem de ser feita, é muito fácil sofrer abusos nas redes”, aponta, em declarações à Sky Sport.

E alguma coisa parece estar em marcha - pelo menos a noção de um crescente sentimento de inconformismo. É que aos clubes das Ligas envolvidas neste protesto juntar-se-ão também a federação inglesa (FA) e uma série de outras organizações, incluindo a Kick it Out, responsável pelo combate ao racismo no futebol: “Este boicote significa a nossa raiva colectiva”, aponta o presidente, Sanjay Bhandari, que descreve as redes sociais como um “veículo para abusos tóxicos regulares”.

Na verdade, esta acção de protestos está a ter um efeito em cadeia. Isto porque a Associação de Adeptos de Futebol, a associação de treinadores, a direcção da Liga feminina e a associação de árbitros PGMOL também se solidarizaram com o gesto e vão alinhar na iniciativa, conferindo-lhe uma noção bem mais robusta de escala em Inglaterra.

O avançado Neal Maupay, que veste as cores do Brighton, classifica esta decisão como uma jogada “muito positiva”. Os jogadores sofrem muitos abusos online e precisamos de os combater. É uma forma de o fazermos. É bom que estejamos nisto juntos”, assinalou o francês.

Em Abril, o próprio Liverpool já tinha reportado episódios semelhantes, enfatizando que “não podem continuar a acontecer”. No caso, as vítimas tinham sido o lateral Trent Alexander-Arnold, o médio Naby Keita e o avançado Sadio Mané. E isto sucedeu cerca de um mês depois de Thierry Henry, “lenda” do Arsenal e da selecção francesa, ter, ele próprio, abandonado as redes sociais para denunciar os inúmeros episódios de racismo a que assistira. 

“Ao retirarmo-nos destas plataformas, estamos a adoptar um gesto simbólico face aos que estão no poder. Precisamos que vocês intervenham. Temos de criar a mudança”, acrescenta Sanjay Bhandari. “Precisamos que as empresas de social media tornem as suas plataformas num ambiente hostil para os trolls e não para a família do futebol”.

É também a essa necessidade de separar as águas, “erradicando o ódio online” e “alertando para a importância de educar as pessoas”, que aludem as organizações que dirigem o futebol inglês. “Uma acção de boicote por parte do futebol, isolado, não vai erradicar o flagelo da discriminação online, mas demonstrará que a modalidade está pronta a dar passos voluntários e proactivos nesta luta contínua”, assumem, em comunicado.

Até dia 30, é provável que o protesto cresça em número de aderentes, até porque a responsável pela pasta da igualdade e diversidade da FA, Edleen John, lançou um apelo a outras “organizações e indivíduos” ligados ao futebol para se juntarem à causa. “As empresas de social media têm de ser responsabilizadas se continuarem a falhar nas suas responsabilidades morais e sociais”.

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