Índia com máximo diário mundial de 314 mil casos. Variante indiana requer atenção, avisa Carmo Gomes

Portugal deve estar atento à evolução da situação, em particular à eventual chegada da variante indiana ao Reino Unido, de acordo com o epidemiologista. Variante descoberta parece ser um dos factores responsáveis pela nova vaga de casos na Índia.

Foto
Vários hospitais na Índia dizem estar a ficar sem oxigénio Reuters/AMIT DAVE

A Índia registou um novo máximo mundial de infectados desde o início da pandemia, ao identificar mais de 314 mil casos nas últimas 24 horas, numa altura em que o país lida com uma nova vaga da doença há algumas semanas. No dia anterior, já tinham sido registados mais de 300 mil novos casos.

Os números foram divulgados esta quinta-feira pelas autoridades de Saúde do país, o segundo mais populoso do mundo, com quase 1,4 mil milhões de habitantes, onde cada vez mais pessoas doentes procuram respostas de um sistema de cuidados de saúde frágil, com falta de camas nos hospitais e de oxigénio.

As infecções contabilizadas nas últimas 24 horas elevam o total para 15,9 milhões de casos na Índia desde que a pandemia começou. É o segundo país com mais casos, depois dos Estados Unidos, e o quarto com mais mortes, com 184.657 — só nas últimas 24 horas foram registadas 2104, segundo o Ministério da Saúde.

Muitos hospitais estão a declarar uma grave falta de camas e medicamentos e a funcionar com níveis perigosamente baixos de oxigénio. Vários hospitais na região de Nova Deli já avisaram que têm apenas oxigénio para algumas horas. O Tribunal Superior de Nova Deli ordenou na quarta-feira que o Governo desviasse o oxigénio do uso industrial para os hospitais, para salvar a vida das pessoas. “Implorar, pedir emprestado ou roubar é uma emergência nacional”, disseram os juízes em resposta a uma petição de um hospital daquele estado.

Variante descoberta na Índia requer atenção, avisa Manuel Carmo Gomes

Uma variante do novo coronavírus está a espalhar-se, ao mesmo tempo que aumenta o número de casos – mas ainda não se sabe quão determinante é para esta nova vaga de covid-19 na Índia. Especialistas em saúde disseram que a Índia baixou a guarda quando, no Inverno, o número diário de infecções parecia controlado e tinha baixado para os 10 mil casos. Nessa altura, o país aligeirou várias medidas e passou a permitir grandes concentrações de pessoas.

Alguns dos especialistas afirmam que as novas variantes são as principais responsáveis pelo aumento de casos, mas muitos também culpam os políticos, que permitiram que decorressem comícios políticos antes das eleições locais e grandes celebrações religiosas.

O epidemiologista Manuel Carmo Gomes alerta para esta nova variante indiana, “talvez a que preocupa mais” neste momento. Apesar de a Índia ter identificado no seu território todas as estirpes, a nova, a B.1.617, parece ser um dos factores responsáveis pela “subida tremenda de casos”. Algo “muito preocupante” se se tiver em conta que a variante indiana consegue disseminar-se mais que a britânica, já de si muito transmissível. Além disso, há a possibilidade de infectar pessoas que já tinham ficado doentes com covid-19 anteriormente.

O professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa considera por isso importante “estar atento” à evolução da situação. Em Portugal, o foco deve estar na eventual descoberta da nova estirpe em território britânico: o Reino Unido mantém relações estreitas com a Índia e só esta semana tomou a decisão de suspender voos, uma decisão que já pode ter sido tomada tarde.

“Não sei como os ingleses se descuidaram e atrasaram a suspensão dos voos de e para a Índia. Receio que a variante já esteja no Reino Unido”, avisa, lembrando que os britânicos têm a seu favor a grande percentagem da população que já está imunizada.

A Índia também já lançou a sua campanha de vacinação, mas apenas uma pequena fracção da população já foi inoculada. As autoridades anunciaram que as vacinas estarão disponíveis para qualquer pessoa com mais de 18 anos a partir de 1 de Maio, mas o país não terá vacinas suficientes para os 600 milhões de pessoas que se tornarão elegíveis.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários