Biden prepara-se para ser o primeiro Presidente dos EUA a reconhecer o genocídio arménio

A declaração deverá ser realizada no sábado, quando se assinala o aniversário do início do massacre de 1,5 milhões de arménios pelo Império Otomano. Biden já tinha prometido fazê-lo durante a campanha eleitoral.

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Biden tinha prometido reconhecer oficialmente o genocídio arménio TOM BRENNER / Reuters

O massacre de 1,5 milhões de arménios durante a I Guerra Mundial pelo Império Otomano está prestes a ser reconhecido como um genocídio pelo Presidente dos EUA, Joe Biden, de acordo com várias fontes ouvidas pela imprensa norte-americana. A declaração oficial, a primeira de um Presidente norte-americano em funções, arrisca deteriorar as relações diplomáticas com a Turquia.

É esperado que Biden utilize o termo “genocídio” numa declaração no próximo sábado, quando se assinala 106.º aniversário do massacre contínuo da população civil arménia pelo Império Otomano, que muitos historiadores encaram como uma tentativa de limpeza étnica. Essa possibilidade é confirmada por várias fontes diferentes que acompanharam o processo de tomada de decisão pela Administração Biden.

Na quarta-feira, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, rejeitou comentar o tema, mas referiu que no sábado “haverá mais a dizer”.

A referência expressa de Biden ao genocídio arménio terá sobretudo um valor simbólico, especialmente por se tratar do primeiro Presidente norte-americano em funções a fazê-lo.

Até agora, as declarações sobre o tema evitavam a utilização do termo sobretudo para não ferir a posição turca, que se tem empenhado na negação de que o assassínio sistemático de arménios pelo Império Otomano se tenha tratado de um genocídio.

Ancara não reconhece o número de vítimas e enquadra o acontecimento no âmbito das hostilidades da I Guerra Mundial, e sustenta que houve mortes e abusos de parte a parte.

Há 30 países que reconheceram de alguma forma o genocídio arménio, incluindo Portugal. Em 2016, o Papa Francisco usou o termo, durante uma visita a Ierevan.

Em 2019, o Congresso norte-americano aprovou legislação que abre caminho ao reconhecimento formal do genocídio arménio e a sua inclusão na política externa do país. Durante a campanha eleitoral, Biden já tinha prometido reconhecer de forma oficial o genocídio arménio.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Arménia, Ara Aivazian, disse que “o reconhecimento pelos Estados Unidos será uma espécie de marco moral para muitos países”, numa entrevista ao New York Times. “Não se trata de algo sobre a Arménia e a Turquia. É sobre a obrigação de reconhecer e condenar os genocídios do passado, do presente e do futuro”, acrescentou.

A decisão de Biden será certamente mal recebida em Ancara e pode fazer deteriorar mais rapidamente as relações entre os dois países. A Turquia, que pertence à NATO, tornou-se nos últimos anos num parceiro recorrente dos EUA no Médio Oriente, sobretudo no combate ao terrorismo.

No entanto, nenhum analista acredita que o reconhecimento público do genocídio arménio por Biden faça o Presidente Recep Tayyip Erdogan aproximar-se de adversários estratégicos dos EUA, como a Rússia ou o Irão.

“Poderá ser mais difícil fazer com que Erdogan concorde com determinadas políticas”, prevê o ex-embaixador dos EUA na Turquia, James Jeffrey, citado pelo New York Times.

Esta semana, o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlu Cavusoglu, avisou os EUA para a possibilidade de haver uma degradação das relações entre os dois países. “Declarações que não têm qualquer vínculo legal não trazem benefícios, mas vão danificar os laços”, disse o ministro numa entrevista ao canal turco Haberturk.

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