Estudantes da Porto Business School criam projecto de aquacultura com peixes alimentados à base de insectos

Tobias, Ana, André e Frederico são estudantes da Porto Business School e criaram o De-bugging Food Systems, uma solução sustentável com um objectivo ambicioso: acabar com a fome em África até 2030. O projecto foi o vencedor da Global Case Competition.

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Jean Wimmerlin/Unsplash

“Não reinventaram a roda”, como referem, mas desenvolveram o De-buging Food Systems — uma solução sustentável de reformulação de alimentos com um objectivo ambicioso: acabar com a fome em África até 2030. Complicado ou até mesmo impossível são palavras que não se aplicam a este projecto desenvolvido por quatro estudantes da Porto Business School e vencedor da Global Case Competition — criada pela Norwegian Bussiness School —, em que participaram 85 escolas mundiais.

Para a equipa Inbbictus, erradicar a fome em África não passa pelo pão, pela carne ou por legumes e o alimento escolhido nunca será alvo do programa de redução de sal. A ideia passa por criar um projecto de aquacultura baseada em peixe alimentado à base de insectos. Uma prática recente que tem vindo a ser implementada em pequena escala, tendo em conta os problemas de regulação existentes na Europa. “Um dos grandes problemas da aquacultura é o impacto nocivo que tem para o ambiente local e a complexidade da cadeia de valor porque, de resto, o peixe é barato e massificado”, começa por explicar ao P3 Tobias Azevedo, porta-voz da equipa.

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Tobias Azevedo, Ana Barros, André Lhamas, Frederico Antas Porto Business School

Tudo começa na mosca soldado-negro, alimento dos peixes tilápia e sargo, que, por sua vez, alimentarão toda a população. A solução é fácil, barata e principalmente sustentável, por isso fica desde já o aviso: pratos como paté de larvas ou pão de insectos não vão constar na alimentação destes peixes. “Usa-se a larva da mosca, que é algo que já é muito utilizado na aquacultura de alta qualidade. No salmão usa-se muito, porque o ómega 3 não ocorre naturalmente no peixe, é dependente 100% de alimentação.”

Durante o processo, que demora menos de três semanas, o desperdício agrícola que não é utilizado para consumo humano é armazenado nas gavetas das fábricas de insectos até que se formem as larvas que depois serão trituradas para formar o conteúdo e alimentar os peixes. E onde estarão estas fábricas? O projecto-piloto escolheu a região da Beira, em Moçambique — país que tem vindo a apostar em soluções deste género para consumo local. 

As fábricas e os aquários de água doce e salgada espalhar-se-ão ao longo da zona costeira e serão produzidos em simultâneo, quer para tornar a distribuição mais eficiente quer para salvaguardar o abastecimento da população em situações de extremas como a actual crise pandémica. “Um quilo de proteína à base de insectos comparado com um quilo de proteína à base de carne bovina consome 15 litros de água em vez de 30 mil, ocupa 15 metros quadrados de terreno em vez de 250 e produz até dez vezes menos emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito de estufa.”

Inbbictus propõe que o peixe seja vendido por menos de um dólar (0,84 euros) por dia, valor acessível para a toda a população da região da África Subsariana. Para que o De-bugging Food Systems saia do papel é necessário um investimento de 1,8 mil milhões de euros ao longo de dez anos e, principalmente, captar o interesse das Nações Unidas, bancos de fomento e empresas privadas que comercializarão a ideia. “Não temos infra-estrutura para sermos nós a comercializar, mas gostávamos imenso que alguém olhasse para isto e que o tentasse fazer”, reforça Tobias.

Se existir interesse, a equipa estima que até 2030 possam ser produzidas 206 mil toneladas médias de peixe que alimentarão uma população de 500 milhões de habitantes. Para os dias 19 e 21 de Julho está agendada a Food Summit, em Roma, e a Inbbictus vai lá estar. “Não nos surpreenderia que nos dissessem ‘Vocês não têm razão nenhuma, foquem-se na gestão e administração de empresas e deixem isto para os cientistas e para os investigadores’. Mas também é possível que tenha pernas para andar”, conclui.

Texto editado por Ana Maria Henriques

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