O futuro do trabalho deve ser de todos

Devemos continuar a concentrar os nossos esforços na facilitação do acesso à formação especializada para todos os afetados pela crise e para os que se encontram em situação de maior vulnerabilidade, para que possam fazer a transição para ocupações de elevada procura.

Há pouco mais de um ano, a rotina de todos sofreu uma grande mudança. Cá em casa fiquei com duas crianças em idade escolar e mais um recém-nascido, a tentar gerir uma empresa entre a minha sala e o quarto do bebé. Já muito falámos sobre a adaptação ao teletrabalho e ao ensino de casa, e ficou ainda mais claro no nosso dia a dia a diferença que faz e o impacto que tem a tecnologia. Esta nova dinâmica, no entanto, vai exigir mais do que aprender a fazer reuniões por teleconferência. O futuro do trabalho e da economia vai depender de pessoas capacitadas e prontas para lidar com o que o mercado nos pede – agora, talvez, ainda mais do que esperávamos há um ano. 

Um estudo da Google e da McKinsey sobre o impacto da automação no mercado de trabalho estima que, mesmo levando em consideração as perdas de empregos esperadas, a Europa ainda pode ter uma escassez de trabalhadores, em vez de uma escassez de empregos em 2030. Antes da pandemia de covid-19, o estudo dizia que o défice poderia chegar a seis milhões de trabalhadores, embora agora possa ser menor.

Os dados também sugerem que mais de 90 milhões de trabalhadores europeus poderiam precisar de desenvolver novas competências digitais no âmbito das suas funções atuais. A crise global acelerou muitas destas previsões e evidenciam a necessidade de aquisição de novas competências como porta de entrada para um emprego de qualidade. A recolocação de profissionais é cada vez mais urgente e só podemos fazê-lo incentivando a aprendizagem transcurricular, a todos os trabalhadores, em qualquer momento de suas vidas. 

Em Portugal, um relatório do Connected Commerce Council, financiado pela Google, mostrou que as empresas que usaram ferramentas digitais para se adaptarem rapidamente conseguiram vender 80% mais durante a covid-19 do que aquelas que não o fizeram. Essas empresas também contrataram três vezes mais pessoas, o que demonstra a vantagem do digital para impulsionar receitas e gerar empregos.

Por isso devemos continuar a concentrar os nossos esforços na facilitação do acesso à formação especializada para todos os afetados pela crise e para os que se encontram em situação de maior vulnerabilidade, para que possam fazer a transição para ocupações de elevada procura. Garantir o seu futuro depende de lhes conseguirmos oferecer as ferramentas necessárias para serem competitivos no mercado de trabalho.

Parte da solução está na cooperação público-privada entre governos, empresas e organizações que trabalham para fortalecer a economia social para que ninguém seja excluído das oportunidades. Administrações, empresas e profissionais devem trabalhar em conjunto para adequar os planos de estudos e formação, viabilizando programas educacionais atualizados e investindo na capacitação dos funcionários.

Desde 2016, a Google já treinou mais de 100 mil portugueses em competências digitais com o programa Atelier Digital. Hoje, lançamos quatro Certificados Profissionais e mais de três mil bolsas de formação em parceria com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), a Associação Portuguesa de Desenvolvimento das Comunicações (APDC), a ONG Fundação da Juventude, suportado pelo INCO, e o apoio do Ministério do Trabalho. 

A tecnologia dá-nos oportunidades de ajudar qualquer pessoa, independentemente da sua localização geográfica, origem, idade ou nível educacional. Todos temos que abraçar o desafio de capacitar a nossa força de trabalho por meio da aquisição de novas competências e do estímulo à aprendizagem e inovação, não deixando ninguém para trás. 

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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