Quase um milhão de pessoas passam fome em Moçambique, alerta ONU

Os ataques de insurgentes ligados ao Estado Islâmico aumentaram a fome em Moçambique, um dos países mais pobres e subdesenvolvidos do continente Africano.

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Refugiados em Pemba, Moçambique JOAO RELVAS/Lusa

Cerca de um milhão de pessoas estão a passar por fome severa no Norte de Moçambique, onde centenas de milhares fugiram aos ataques militantes islamistas, segundo o World Food Program (WFP) da ONU.

Insurgentes ligados ao Daesh atacaram Palma, uma cidade em Cabo Delgado, uma província próxima de projectos de gás em desenvolvimento por empresas incluindo a Total e a Exxon, no mês passado.

O WFP disse, num briefing em Genebra, que 950 mil pessoas estão a passar fome em Moçambique. O programa apelou aos doadores ajudas de 82 milhões para enfrentar a crise.

“Famílias e indivíduos tiveram de abandonar os seus pertences e sustentos e fugir por segurança… agravando a situação já de si desesperante que se vive no Norte de Moçambique”, disse o porta-voz do WFP, Tomson Phiri.

O director de emergências do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Manuel Fontaine, disse no mesmo briefing: “Estamos a enfrentar uma crise humanitária tanto alargada como provavelmente duradoura”. A população em algumas cidades duplicou, ou menos triplicou, à medida que mais pessoas chegavam, disse.

Aproximadamente 690 mil pessoas já estavam deslocadas em todo o país em Fevereiro. Mais 16.500 pessoas foram, desde então, registadas em outras áreas de Cabo Delgado depois de fugirem ao ataque em Palma, segundo a Organização Internacional para as Migrações.

Dezenas de centenas de pessoas ainda estão deslocadas dentro do distrito de Palma ou ainda estão em movimento, disse a Agência de Coordenação Humanitária da ONU (OCHA) na segunda-feira.

Muitos fugiram para a vila mais próxima, Quitunda, construída pela empresa francesa Total para alojar os deslocados, ao abrigo do seu projecto de gás de 20 biliões. As pessoas têm pouco acesso a comida, nenhuma protecção e centenas reúnem-se perto da Total, diariamente, desesperadas por evacuação, contou uma testemunha à Reuters. A Total retirou os seus funcionários do local, devido a actividade insurgente a 2 de Abril.

A empresa também suspendeu as operações na capital da província de Pemba, revelou uma fonte à Reuters. A Total ainda não comentou.

O Centro de Integridade Pública de Moçambique disse que o Governo falhou na gestão da crise, apoiando-se maioritariamente em agências de apoio que dão suporte a quem foge da violência. Muitas ficaram nas zonas de guerra, porque não tinham meios de chegar a zonas seguras, disse.

O Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastre (INGD) afirmou que 30 mil pessoas foram deslocadas depois do ataque em Palma e que o Governo estava a trabalhar com agências de apoio para oferecer ajuda.

“Desde a primeira hora, o Governo tem trabalho em proximidade com parceiros das Nações Unidas representados pela OCHA, bem como organizações não-governamentais. Portanto, não é verdade que não estamos a dar assistência às pessoas afectadas pelo terrorismo”, disse a INGD à Reuters.

As autoridades ainda estão a trabalhar para identificar os 12 corpos decapitados encontrados em Palma depois do ataque, que tanto a polícia como militares do exército acreditam serem estrangeiros.

A população moçambicana é maioritariamente cristã. Cabo Delgado é uma das poucas províncias que têm maioria muçulmana. O país continua sendo um dos países africanos mais pobres e subdesenvolvidos, apesar dos seus recursos naturais, e a insurgência islâmica é uma ameaça em rápido crescimento, depois de anos de relativa paz, seguida de uma sucessão de guerras.

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