Alemanha: começou o julgamento de grupo que queria atacar mesquitas

Grupo de extrema-direita tinha como objectivo provocar “uma guerra civil” e a queda do regime democrático no país.

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Um dos acusados no caso do Grupo S PHILIPP GUELLAND/EPA

Começou esta terça-feira em Estugarda o julgamento de um grupo de extrema-direita que pretendia levar a cabo ataques contra mesquitas, imigrantes, requerentes de asilo e políticos, com o objectivo de provocar “uma guerra civil” na Alemanha.

Os acusados de fazer parte do Grupo S são onze homens, todos alemães, com idades entre os 32 e 61 anos, e o grupo teria apoio de um décimo segundo elemento, um polícia, também a ser julgado. Um dos acusados está a ser julgado à revelia, e um outro morreu na prisão.

O líder do grupo recrutou os outros elementos em grupos com ideias de extrema-direita que não são organizados, mas que se encontram frequentemente em acções de rua como manifestações e marchas, com as suas típicas roupas negras.

A polícia preocupa-se com o potencial de grupos pouco organizados mas com grande potencial de transição rápida para a violência, que não têm, no entanto, uma estrutura. Potenciais locais de encontro e recrutamento incluem os protestos contra as medidas de restrição do coronavírus.

Para este grupo, o líder procurava homens “inteligentes, duros, brutais, rápidos, eficazes”, diz a emissora pública ARD. O grupo preparava-se para comprar uma Kalashnikov com 2000 rounds de munições, uma Uzi semiautomática, e granadas de mão. Os seus elementos tinham já, em conjunto, 27 armas sem autorização.

O polícia suspeito de colaborar com o grupo terá dado 5 mil euros para a compra de armas, alega a acusação. O envolvimento da polícia em actividades de grupos que tentam atacar políticos também tem sido um dado preocupante noutros casos: uma lista de dados de políticos, usada por um outro grupo para os ameaçar, terá saído de um computador da polícia.

O objectivo de provocar uma guerra civil, ou causar o máximo de desestabilização da vida democrática, tem sido um tema comum a vários grupos extremistas na Alemanha, que se prepararam para o “dia X”, em que surgiriam para tomar as rédeas entre o caos.

Num caso, houve mesmo um oficial do Exército que tentou fazer-se passar por requerente de asilo, com o objectivo de mais tarde protagonizar um ataque, fazendo as culpas cair no refugiado (o plano falhou e o responsável foi detido antes de o conseguir concretizar).

No caso do Grupo S, o “dia X”​ era idealizado como um dia de ataques a uma série de mesquitas ou ao edifício do Parlamento em Berlim, o que levaria ao colapso do sistema democrático.

O seu líder, Werner S. (os jornais alemães não identificam apenas com o nome próprio e a inicial do apelido os acusados em tribunal), organizou um primeiro encontro em Setembro de 2019. E embora as autoridades o vigiassem, o papel de um informador terá sido fulcral – este é a principal testemunha da acusação e está num programa de protecção de testemunhas. Segundo a emissora SWR Werner S. terá ordenado, a partir da prisão, o assassínio do informador.

“Se os acusados tivessem sido capazes de levar a cabo os seus ataques de terror, teríamos tido aqui uma enorme e brutal máquina de morte”, disse o presidente do gabinete de investigação criminal do estado de Baden-Württemberg, Ralf Michelfelder.

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