Forças sírias usaram armas químicas contra a população em 2018

Regime sírio alega ter destruído o arsenal químico, mas há provas que apontam para o contrário. Para além disso, Damasco recorre ao cloro, um gás que não pode ser banido por ter vários usos industriais.

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A Organização para a Interdição das Armas Químicas, com sede em Haia, avançou num relatório o envolvimento da Força Aérea síria num ataque com cloro Reuters/PIROSCHKA VAN DE WOUW

A Organização para a Interdição das Armas Químicas (OPAQ) diz ter “provas suficientes para acreditar” que a Força Aérea síria usou uma bomba de cloro num ataque à cidade de Saraqeb, no Noroeste da Síria, em 2018. A conclusão foi extraída de um inquérito publicado esta segunda-feira pela organização, que supervisiona o uso de armas químicas.

Segundo a equipa de investigadores, “o cilindro de gás de cloro despedaçou-se e libertou cloro numa grande área, afectando 12 pessoas”, que foram depois tratadas com sintomas de envenenamento químico – nomeadamente náuseas, irritações oculares, falta de ar e tosse, lê-se no documento.

O cilindro de cloro foi lançado numa “bomba-barril” – uma das armas preferidas do regime de Bashar al-Assad, um chamado “explosivo improvisado” que consiste num barril cheio de explosivos e outros objectos.

Algumas provas reunidas apontam para o avistamento de um helicóptero da Força Aérea síria a “voar sobre a aérea bombardeada no momento da libertação do químico”, na região de Idlib, controlada por rebeldes. 

O helicóptero pertencia a uma unidade de elite geralmente chamada para desencadear operações ofensivas, embora tenha abrandado as suas actividades desde que o regime conquistou grande parte do país, apoiado pela Rússia e pelo Irão.

Quanto ao químico identificado nas amostras, o cloro, não está banido, mas o seu uso em conflitos armados (como o de qualquer substância química) é proibido segundo a Convenção de Armas Químicas, cujo cumprimento é supervisionado pela OPAQ​, baseada em Haia. Damasco nega sempre o envolvimento em ataques químicos, com o regime a garantir ter entregado todo o arsenal de armas químicas na sequência de um acordo em 2013 com a ONU.

Foi depois do ataque de com gás sarin contra Ghuta, um subúrbio de Damasco, em Agosto de 2013 – segundo um relatório das Nações Unidas, morreram mais de 1400 pessoas, incluindo 400 crianças – que a Síria aceitou integrar a Convenção da OPAQ. Para evitar a intervenção militar que Barack Obama, então Presidente dos Estados Unidos, prometera se fossem usadas armas químicas contra civis, Assad aceitou visitas de inspectores da OPAQ que destruíram os equipamentos necessários à produção destes químicos, assim como os stocks que encontraram.

Terá sido nessa altura que o regime começou a recorrer a gás de cloro, um gás cuja utilização como arma de guerra está proibida mas que não pode ser banido por ter várias utilizações industriais.

A OPAQ não vai identificar individualmente os autores do ataque, apenas vai partilhar as conclusões com os estados membros e com a ONU. Já em 2020, a OPAQ concluiu que o regime lançou bombas com cloro e com gás sarin na região de Hama, em 2017.

As investigações sobre o recurso a armas químicas começaram poucos anos depois do início da guerra civil no país, após as manifestações de 2011 contra Assad. Este reprimiu violentamente os protestos, dando origem a um conflito que provocou quase 400 mil mortes e 12 milhões de deslocados e refugiados, segundo os dados do Observatório Sírio dos Direitos Humanos.

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