Pemba vulnerável a ataques jihadistas, diz consultora de segurança
A Pangea-Risk, que avisou do iminente ataque Palma e não foi ouvida, afirma que “o vácuo de segurança” na região deixa a capital da província moçambicana de Cabo Delgado exposta a ataques “nos próximos meses”.
Nem Palma está a salvo de voltar a ser invadida pelos jihadistas nem Pemba pode estar segura de não ser atacada nos próximos tempos, essa é a conclusão a que chega a consultora Pangea-Risk, que faz análises de risco políticas, económicas e de segurança em África e no Médio Oriente, na sua nota mais recente sobre a província moçambicana de Cabo Delgado.
“Vai haver um vazio de segurança em Cabo Delgado no próximo mês, senão nos próximos, o que deixa quer Palma quer outras localidades na província expostas a mais ataques dos militantes”, afirma a consultora, na nota aos clientes a que a Lusa teve acesso.
“O vácuo de segurança na região deixa a capital provincial, Pemba, e a cidade costeira de Mtwara, na Tanzânia, expostas a mais ataques dos militantes nos próximos meses”, acrescenta. Mtwara é o porto para onde a Mota-Engil desviou, por razões de segurança, os materiais para as infra-estruturas que está a construir em Afungi, perto de Palma, para o projecto de gás natural liquefeito da multinacional francesa Total.
A nota da consultora refere que “mais ataques a Palma devem ser esperados nas próximas semanas, já que os insurgentes procuram recuperar o controlo do território e estender o seu controlo a norte de Mocímboa da Praia”, localidade onde aconteceu o primeiro ataque em Outubro de 2017 e que os jihadistas controlam há meses.
“A Pangea-Risk escreveu dois avisos detalhados antes da ‘Batalha de Palma’ no norte de Moçambique, um em Outubro e outro 12 dias antes do ataque, mas os alertas foram ignorados”, escreve a consultora, para demonstrar a seriedade das suas previsões de risco.
A empresa refere que o ataque a Palma foi preparado durante meses e que durante esse tempo as autoridades foram avisadas várias vezes e por várias fontes de que o ataque estava iminente.
Segundo os dados da Pangea-Risk, terão morrido em Palma mais de 100 civis e 35 mil fugiram de suas casas, engrossando o contingente de 700 mil deslocados já causados pelo conflito.
Porto seguro?
Pemba tem-se mantido como porto seguro nestes três anos e meio de guerra de insurreição jihadista do Al-Shabaab moçambicano em Cabo Delgado, abrigo para muitos milhares que fugiram dos ataques no resto da província. Mas a Pangea-Risk diz que um ataque a Pemba está a ser preparado pelos insurgentes.
A consultora afirma também que os jihadistas vão lançar nas próximas semanas um ataque mais próximo da zona de segurança à volta do estaleiro da Mozambique LNG em Afungi, de onde a Total retirou todos os seus funcionários, mas que continua guardado por um contingente de forças especiais moçambicanas.
“As nossas fontes locais esperam um ataque à localidade de Quitunda, perto do local do projecto de Afungi, nas próximas semanas”, um ataque que poderá levar os militares que estão em Afungi a acorrer para proteger a população, “violando o acordo de segurança entre o Governo e a petrolífera Total”, escrevem os analistas.
Mocímboa da Praia, o centro
A consultora refere ainda que os jihadistas têm usado Mocímboa da Praia como a sua base de rectaguarda para os ataques noutros pontos da província, nomeadamente Palma.
“Em Agosto de 2020, os militantes capturaram a cidade de Mocímboa da Praia e controlam-na até hoje; de uma perspectiva estratégica, o controlo de Mocímboa da Praia deu aos insurgentes uma base para lançar ataques a outras cidades”, refere o texto.
A 7 de Março, com a captura de Nonje, o posto fronteiro com a Tanzânia, o Al-Shabaab moçambicano ou Ahlu Sunnah Wal-Jamaa, que significa “adeptos da tradição profética e da congregação”, conseguiu isolar a vila de Palma, “passando o barco de Pemba a ser o único caminho possível”.
Desde meados do mês passado que havia “ataques diários aos postos de defesa, com infiltrações de militantes e sabotagem das provisões das forças militares” na zona de Palma, daí os alertas de ataque iminente emitidos por “vários analistas de segurança dentro e fora de Moçambique”.