Papa: ajudar e partilhar “não é comunismo, é cristianismo na sua forma mais pura”

“Não vivamos uma fé sem convicção, que recebe mas não dá, que acolhe o presente mas não se torna um presente”, disse o Papa.

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O Papa Francisco FILIPPO MONTEFORTE/EPA/ARQUIVO

O Papa Francisco pediu este domingo aos fiéis para não viverem “uma meia crença” e para ajudarem os outros, porque ajudar e partilhar “não é comunismo, é cristianismo na sua forma mais pura”.

Durante a Missa do Domingo da Misericórdia, o pontífice recorreu ao episódio bíblico da aparição de Jesus da Nazaré ressuscitado aos seus discípulos, desanimados pela morte do mestre e atemorizados pela perseguição – uma presença que, segundo a Bíblia, mudou as suas vidas e os fez partilhar tudo.

“Só acolhendo o amor de Deus podemos dar algo de novo ao mundo. Vemos isso na primeira leitura. Os Actos dos Apóstolos dizem-nos que ‘ninguém considerava os seus bens como sendo seus, todas as coisas eram mantidas em comum’. Não é comunismo, é cristianismo na sua forma mais pura”, sublinhou o Papa.

E acrescentou: “É ainda mais surpreendente se pensarmos que esses mesmos discípulos pouco tempo antes tinham discutido sobre recompensas e honras, sobre quem era o maior entre eles”.

Francisco explicou que os discípulos abraçaram a misericórdia e entregaram-se a outros que sentiram o mesmo sobre o seu mestre, que perdoou as suas dúvidas.

“Eles viram nos outros a mesma misericórdia que tinha transformado as suas vidas. Descobriram que tinham em comum a missão, o perdão e o Corpo de Jesus; partilhar os bens terrenos era uma consequência natural”, disse.

Na sua homília, baseada na exigência de misericórdia para com os cristãos, o Papa convidou os fiéis a reflectirem sobre se se “curvam perante as feridas dos outros”, os problemas dos outros.

“Não fiquemos indiferentes. Não vivamos uma fé sem convicção, que recebe mas não dá, que acolhe o presente mas não se torna um presente (...). Porque se o amor acaba em nós mesmos, a fé seca num intimismo estéril. Sem outros, torna-se desencarnado. Sem obras de misericórdia, morre”, insistiu.

A missa, celebrada na Igreja do Espírito Santo em Sassia, a poucos metros da Praça de São Pedro, contou com a presença de cerca de 80 pessoas ligadas a obras de misericórdia, com distância de segurança e usando máscaras, para evitar contágios pelo novo coronavírus.

Entre os presentes encontravam-se uma família de migrantes da Argentina, jovens refugiados sírios, nigerianos e egípcios, voluntários da Cáritas, um grupo de detidos, algumas enfermeiras, deficientes e freiras das Irmãs Hospitaleiras da Misericórdia, entre outros.

Francisco oficializou assim a homília do Domingo da Misericórdia, uma semana após a Páscoa, instituída por João Paulo II em 1992, na sequência das visões da freira e santa polaca irmã Faustina Kowalska, que assegurou que Jesus Cristo lhe tinha pedido que o fizesse.

No ano passado, a missa esteve sem fiéis neste mesmo templo, porque Itália atravessava o pior momento da pandemia.

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