Não precisamos ser grandes para competir com gigantes

Vivemos hoje num mundo que tende a empurrar-nos para a bipolarização. Ou somos a favor ou somos contra. E se somos isto não podemos ser aquilo. Contudo, a natureza e a vida não são verdadeiramente assim. Tendem, sim, a viver num equilíbrio frágil. Como as duas faces de uma mesma moeda. Indivisível, estável de cada um dos seus lados, insegura quando posta ao alto. A maioria das coisas não é por isso nem totalmente sã, nem desesperadamente perniciosa. E por isso, é na exploração do equilíbrio, instável por concepção, que surgem as oportunidades, as maiorias de razão e a evolução das coisas.

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D.R.

O mesmo se passa com a globalização e a transformação digital. Terríveis ameaças ou tremendas oportunidades? Arrisco ensaiar que talvez uma dura realidade para quem não souber aproveitar a melhor oportunidade que alguma vez tivemos para expandir os nossos negócios. A arena de competição deixou de ser o mercado local. Pode agora passar a ser o mundo. E se com isso conseguimos alcançar muitos mais potenciais clientes, também nos cria desafios com muito mais concorrência.

É fundamental assimilar que no espaço digital estamos todos à mesma distância um dos outros, esbatendo-se o carácter periférico do país no espaço europeu, ou até a distância aos gigantes mercados americanos e chinês, como o demonstram os quatro unicórnios nacionais. Se em muitos sectores a corrida ainda pode ser a caminho do zero, com uma procura por preços baixos, em muitos mais premeia-se a qualidade e a experiência de cliente. E aí é preciso que o país se readapte, reflectindo sobre as suas forças e as suas fraquezas. Podemos não competir em escala, pode faltar-nos massa crítica em várias dimensões, mas sobra-nos curiosidade, conhecimento e capacidade para competir pela inovação, pelo serviço ao cliente e pela inteligência com que tomamos decisões e gerimos os nossos negócios e as nossas operações. Se a transformação digital é na verdade uma transformação analógica, de pessoas e processos, assente em tecnologia, precisamos perceber, com o contexto que o país tem, como podemos endereçar esses eixos. Ou seja, procurar também aqui o tal instável equilíbrio que nos maximiza as oportunidades de sucesso, a partir dos recursos à nossa disposição.

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Se a transformação digital é na verdade uma transformação analógica, de pessoas e processos, assente em tecnologia, precisamos perceber, com o contexto que o país tem, como podemos endereçar esses eixos Ricardo Pires Silva, Director Executivo da SAS Portugal

Benjamim Franklin dizia que o conhecimento paga sempre o melhor dividendo. E esse conhecimento ou vem dos recursos humanos ou é propagado pela tecnologia. E, talvez, o maior mérito da tecnologia, no seu sentido lato, seja mesmo a sua escalabilidade, e a forma como ao longo do tempo se tende a tornar barata e democrática, chegando a muito mais pessoas, exponenciando-lhes as possibilidades, as competências e o valor.

Temos universidades que competem com as melhores do mundo, mas temos um problema de escala. Somos o terceiro país mais envelhecido da Europa, o quinto no mundo, e temos a quinta taxa mais baixa de natalidade da UE (dados de 2020). Portanto não produzimos talento suficiente, e como há escassez em todo o mundo, ainda temos um défice demográfico desse talento, que estuda cá, depois emigra, e vai aumentar a produtividade noutros países. Por isso, mais do que noutro lado qualquer, por todas estas razões, a adopção de tecnologia que ajude a escalar o conhecimento e a tomar melhores decisões, é urgente e imperativa em Portugal. Como o desafio demográfico é eventualmente irresolúvel ou, na melhor das hipóteses, levará décadas (que não temos) para solucionar, precisamos democratizar o alcance e a utilização destas tecnologias por mais pessoas, nomeadamente aquelas que já hoje temos nas nossas empresas.

A analítica e a inteligência artificial (IA) podem ser “essa” tecnologia. As suas capacidades de extrair valor dos dados, de encontrar padrões no meio de aparentes caos e, sobretudo, de automação em larga escala, podem ajudar o país a enfrentar os seus crónicos desafios de baixa produtividade. Não precisamos ser muitos. Não precisamos ser grandes. Precisamos sim ser mais inteligentes, mais ágeis e mais eficazes. E essa inteligência virá das decisões que podemos tomar depois de trabalharmos e compreendermos os dados que gravitam dentro e em torno do nosso negócio. Para isso é preciso levar a analítica e a IA a todos e a todo o lado, e não apenas aos cientistas de dados, aos matemáticos ou às grandes empresas. Precisamos da gestão de topo, precisamos da gestão intermédia, e de todos os que percebem dos seus negócios sem terem necessariamente um curso de programação ou estatística. Precisamos das pequenas e médias empresas, e precisamos amplificar o ecossistema vibrante das start-ups nacionais. Esta democratização será um aliado no combate à escassez de talento e de outras limitações próprias de uma economia pequena, aberta e com profundos desafios demográficos, como a portuguesa.

Contudo, para isto ser possível, há três grandes requisitos. Aumentar a literacia digital, simplificar a utilização destas tecnologias e alinhar os custos iniciais com as capacidades de investimento das nossas empresas. Felizmente temos boas notícias. A literacia digital faz hoje parte dos programas governativos, do país e da Europa, e muitas empresas do universo tecnológico disponibilizam agora programas formativos de muito baixo custo. As soluções de analítica e IA de última geração, como a plataforma SAS Viya, permitem o acesso a potentes algoritmos e processos avançados através de interfaces simples, viradas para os utilizadores de negócio, com camadas de abstracção que escondem as complexidades técnicas e matemáticas desses modelos. E, por fim, a computação em cloud baixou drasticamente os custos de arranque, ao mesmo tempo que a sua elasticidade trouxe agilidade e escalabilidade que antes eram inalcançáveis.

Este artigo é da autoria de Ricardo Pires Silva, Director Executivo do SAS Portugal