Céu Mateus e a economia das vacinas

Em relação à questão das patentes das vacinas para a covid-19, devem estas continuar a ser respeitadas em face do interesse público? Alguns dos países mais ricos reservaram doses suficientes para vacinar várias vezes toda a sua população.

Na mais recente edição do podcast quinzenal do PÚBLICO “Assim Fala a Ciência”, que tem o apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos e é co-organizado por mim e pelo Carlos Fiolhais, tive o gosto de conversar com Céu Mateus, economista da saúde e professora na Universidade de Lancaster, no Reino Unido, que se especializou na avaliação económica de tecnologias e intervenções em saúde, designadamente na medição da eficiência, da equidade e do impacto na qualidade de vida dessas intervenções. Ela é licenciada pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, mestre pela Universidade de Bath, no Reino Unido, e doutora pela Universidade Nova de Lisboa (Escola Nacional de Saúde Pública).

Começámos por falar dos critérios de prioridade para a vacinação contra a covid-19. Há quem defenda que o critério deveria ser exclusivamente etário, por ele ser mais prático. Quais os princípios que devem orientar a definição de prioridades em casos como este?

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Céu Mateus, economista da saúde DR

Sendo as vacinas para a covid-19 um inegável feito da ciência, seria de esperar que o mais difícil – desenvolver vacinas novas para uma doença nova em menos de um ano – já estivesse feito. Mas a realidade tem mostrado as dificuldades na produção e distribuição em massa das vacinas. Quis saber quais as causas que Céu Mateus aponta para os vários problemas que têm atrasado a imunização. Pedi-lhe que fizesse um balanço da estratégia de compra conjunta de vacinas da União Europeia. E perguntei-lhe se Portugal deveria avançar com a compra de vacinas fora desse mecanismo comum.

Ainda sobre a estratégia europeia, falámos sobre a eventual proibição pela União Europeia de exportação de vacinas para fora do seu território. Perguntei-lhe se há reciprocidade internacional na exportação de vacinas. Discutimos ainda a questão das patentes das vacinas para a covid-19: devem estas continuar a ser respeitadas em face do interesse público?

Para além do cumprimento dos contratos de entrega das vacinas ser distinto nos vários países, com grande desvantagem para a Europa face ao Reino Unido e aos Estados Unidos, verifica-se também uma grande assimetria nas encomendas de doses. Alguns dos países mais ricos reservaram doses suficientes para vacinar várias vezes toda a sua população. Outros, muito menos abonados, dependem de mecanismos de solidariedade internacional para terem acesso às vacinas para a covid-19. Perguntei-lhe se esses mecanismos serão eficazes. E o que farão os países ricos com o seu excesso de vacinas?

Terminámos com outro assunto. Alguns doentes têm pedido que certos medicamentos caros sejam pagos pelo SNS, ao abrigo de uma autorização excepcional. Nalguns casos esses medicamentos permitem prolongar a vida dos doentes por alguns meses, noutros um pouco mais por alguns anos. Indaguei acerca dos critérios que devem ser usados para decidir sobre estes pedidos.

Daqui a 15 dias haverá novo podcast com mais um dos cientistas da rede GPS – Global Portuguese Scientists, que têm ajudado a criar e a espalhar o saber, contrariando a desinformação. 

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Este programa tem o apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

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