Leiloeira do Porto cede a ambientalistas e cancela venda de chifres de rinoceronte

Acção da organização internacional WildAid foi determinante para a decisão da leiloeira Côrte Real, mesmo se as peças se encontravam devidamente certificadas, como foi confirmado no local pela Polícia Judiciária.

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As peças estavam cotadas entre os 4100 e os 9500 euros DR

Uma leiloeira portuguesa retirou esta quinta-feira cinco chifres de rinoceronte de venda após pressão de várias organizações de protecção dos animais, entre as quais a WildAid, apadrinhada pelo príncipe William, Leonardo DiCaprio e David Beckham. 

A leiloeira Côrte Real tinha no catálogo do 3.º Leilão de 2021, a decorrer entre esta quinta e sexta-feiras, cinco lotes de chifres de rinoceronte, com valores estimados entre os 4.100 e os 9.500 euros cada. Questionada pela Lusa sobre porque decidiu retirar da venda os objectos, a leiloeira, sediada no Porto, não quis justificar a decisão, nem porque manteve no catálogo três presas de elefante, que os activistas ambientalistas também querem que sejam removidos.

Alex Hofford, militante da Wild Aid no Reino Unido, disse à Lusa que “a venda deste tipo de peças estimula a procura e a caça ilegal de animais em extinção”, alimentando sobretudo o mercado asiático. O comércio de marfim ou chifres de rinoceronte não é ilegal em Portugal, se as peças tiverem mais de 40 anos, e a leiloeira Côrte Real atribuía a origem dos chifres de rinoceronte aos anos 1940-50. 

Devido às restrições previstas na Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES), o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) tem de verificar e certificar as proveniências das peças. E isso foi assegurado pela Côrte Real, cujo responsável assegurou ao PÚBLICO que os chifres de rinoceronte em leilão estavam devidamente certificados.

Também a Polícia Judiciária se deslocou à leiloeira, na quarta-feira, a confirmar a certificação e a idoneidade do proprietário das peças. “Fomos alertados para a realização do leilão, e foi lá uma equipa verificar se as peças de rinoceronte estavam legais; confirmámos que sim”, disse ao PÚBLICO Pedro Silva, coordenador da PJ no Porto responsável pela brigada de obras de arte. Do ponto de vista legal, não há razão para impedir o negócio, questão diferente é a das mentalidades e dos princípios relativos à salvaguarda dos animais, mas não nos cabe intervir nesse processo, acrescentou.

O ambientalista britânico explicou à Lusa que, muitas vezes, a idade dos objectos não pode ser confirmada porque os proprietários não autorizam os testes por serem invasivos, podendo danificá-los ligeiramente. 

Desde 2018 que as principais casas de leilões internacionais, Christie's, Sotheby's e Bonham's, se comprometeram a não vender mais chifres de rinoceronte, e a venda de marfim também foi proibida no Reino Unido. 

Desde a manhã desta quinta-feira que a WildAid, que tem entre os seus embaixadores o príncipe William, o actor Leonardo DiCaprio e o futebolista David Beckham, começou uma campanha nas redes sociais para denunciar o leilão em Portugal, incentivando os apoiantes a escrever à leiloeira. A organização ambientalista portuguesa ANP/WWF associou-se ao protesto. 

A coordenadora de comunicação, Rita Rodrigues, disse à Lusa que é positivo que os chifres de rinoceronte tenham sido retirados do leilão, mas que a organização vai continuar a fazer pressão para que as três peças de marfim também sejam removidas do catálogo. “É importante que, de futuro, peças destas nem cheguem a leilão, na medida em que estimulam o tráfico de espécies de vida selvagem, particularmente para países com pouca regulação na matéria, como é o caso do nosso”, vincou.

Em 2019, uma leiloeira também no Porto foi alvo de uma operação policial da GNR, que resultou na apreensão de 26 peças de marfim. 

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