As câmaras e as aulas online

Enquanto aluna de primeiro ano senti sempre uma grande preocupação dos professores em relação ao nosso bem-estar. Disponibilizaram-nos os contactos, substituíram-se frequências por trabalhos e algumas aulas contaram com a participação de convidados. Acredito que existam realidades idênticas pelas muitas instituições espalhadas pelo país.

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O ensino superior já tem data marcada para o regresso ao presencial, mas nem por isso se descartam as aulas online. São várias as instituições que equacionam o ensino misto, proporcionando aos alunos a retoma, em parte, das suas rotinas, mas que por outro lado evitam grande afluência a universidades e politécnicos. Daqui para a frente, as minhas semanas serão, alternadamente, de ensino presencial e ensino à distância e, por isso, a dinâmica das aulas online é um tema que vai continuar “em cima da mesa”.

Enquanto aluna de primeiro ano senti sempre uma grande preocupação dos professores em relação ao nosso bem-estar. Disponibilizaram-nos os contactos, substituíram-se frequências por trabalhos e algumas aulas contaram com a participação de convidados. Acredito que existam realidades idênticas pelas muitas instituições espalhadas pelo país. Deste lado, do lado dos alunos, não falta apoio, ainda que tenha passado pela cabeça de muitos de nós desistir. Mas, e do outro lado? Como se sentem os professores? Exaustos, creio. Porque não foi isto que os fez ingressar na profissão, mas a harmonia dos alunos em sala de aula, calados, mas atentos, ou inconformados, com questões por fazer. As caras que tanto lhes dizem e que hoje não vêem.

Às vezes sinto que não sabemos retribuir, talvez porque temos a ideia de que o professor é “o mau” e está lá para “nos chumbar”. Basta olharmos para uma coisa tão simples como ligar a câmara, mas que acaba por fazer toda a diferença. No ensino à distância dificilmente se percebe se um aluno está atento, motivado ou, inclusive, se está presente em aula. Os “ecrãs pretos” inundam as sessões de videoconferência e, quando ouvimos chamar, ninguém responde. Chamam uma e outra vez e o silêncio instala-se.

Há a questão do equipamento, entende-se que nem todos os estudantes têm a possibilidade de ter um equipamento à altura das exigências. No entanto, não raras vezes, existem telemóveis que conseguem desempenhar as funções em falta, nomeadamente, na questão da câmara. Em última instância, poder-se-á, até, recorrer à instituição de ensino. Por isso, não há desculpas.

Mas também se fala muito de privacidade. Quanto a isso, creio que haja uma certa incoerência, uma vez que os professores leccionam com vídeo, abdicando, por essa lógica, da sua privacidade. E se os docentes o fazem, porque razão os alunos não o devem fazer? Vivemos na era das redes sociais, como é que podemos dizer que as aulas online violam a nossa privacidade? Para além disso, as aplicações utilizadas são também elas dotadas de ferramentas que permitem alterar o plano de fundo e colocar filtros de vídeo.

Ninguém nos vai obrigar, enquanto adultos, a ligar as câmaras, apesar de o Ministério da Educação ter dito à agência Lusa que, “de acordo com a Resolução do Conselho de Ministros e com pareceres da Comissão Nacional de Protecção de Dados, os professores podem exigir que as câmaras estejam ligadas, dado estar-se em contexto de sala de aula, não havendo divulgação de imagens”. Deve haver uma consciência colectiva, até porque esta seria a oportunidade de nos vermos, mutuamente, e sem máscaras.

Seria justo que nos vissem.

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