Alemanha admite negociar bilateralmente compra da vacina Sputnik V

Ministro da Saúde condiciona acordo a aprovação da vacina russa pela Agência Europeia do Medicamento (EMA). Bruxelas diz que compra não afecta estratégia europeia.

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O ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn, visita um centro de vacinação. Muitos alemães estão frustrados com o ritmo de vacinação Michael Kappeler/Reuters

A Alemanha planeia negociar a compra de doses da vacina produzida pela Rússia, a Sputnik V, num possível acordo bilateral – mas exigindo uma aprovação prévia pela Agência Europeia do Medicamento (EMA), que ainda não foi dada. Berlim deverá ter negociações bilaterais com Moscovo em breve para um contrato de compra de vacinas, disse esta quarta-feira o ministro da Saúde, Jens Spahn. 

A declaração de Spahn segue-se ao anúncio da véspera do ministro-presidente da Baviera, Markus Söder, de que o estado federado do Sul tinha assinado um acordo preliminar para a aquisição de 2,5 milhões de doses da Sputnik V, a serem fabricadas numa filial alemã da russa R-Pharm, na Baviera – também dependente da autorização da EMA.

A Comissão Europeia, que liderou um processo centralizado de compra de vacinas, diz que não pretende negociar a compra de doses da Sputnik para o bloco, argumentando que as doses já contratadas com outros fabricantes serão suficientes para as metas de vacinação para este ano, que é de 70% da população adulta até ao final do Verão.

Cada país é livre de comprar vacinas à margem das incluídas no bolo negociado por Bruxelas, sublinhou o porta-voz da Comissão Europeia Eric Mamer quando questionado sobre se a negociação bilateral entre a Alemanha e a Rússia punha em causa a estratégia europeia (ao contrário do que aconteceria se um país negociasse vacinas incluídas na carteira europeia – nesse caso, as regras não o permitem).

O desinteresse de Bruxelas em relação à Sputnik V é o argumento de Spahn para as negociações bilaterais com a Rússia. “A Comissão Europeia disse ontem [quarta-feira] que não iria assinar contratos [para a Sputnik] como [os que tem] com outros fabricantes, como a BioNTech, por exemplo”, disse o ministro da Saúde à emissora público WDR (Colónia). “Por isso, disse durante a reunião dos ministros da Saúde da União Europeia que iríamos levar a cabo negociações bilaterais com a Rússia.”

Spahn não concretizou quando decorreriam as conversações. Apenas indicou que, para surtir algum efeito, as doses compradas teriam de chegar dentro de dois a cinco meses. O Governo alemão prometeu que 70% dos cidadãos irão ter “uma oferta para uma vacina” até Setembro.

Até agora, Hungria e Eslováquia foram os únicos dois países da União Europeia a comprar, e receber, doses da vacina russa sem a aprovação da EMA (a Hungria comprou ainda doses da vacina chinesa Sinopharm). Ambos atravessam uma fase grave da pandemia, estando recentemente (primeiro a Eslováquia, agora a Hungria) no lugar cimeiro entre os países com piores taxas de óbitos de covid-19 (por milhão de habitantes) do mundo.

Mas na Eslováquia, a compra da Sputnik deu problemas. Primeiro, porque foi negociada em segredo, o que levou a indignação na coligação do Governo e à queda do primeiro-ministro. Segundo, porque os testes do regulador nacional não foram conclusivos em relação à sua segurança já que as doses recebidas em Bratislava têm uma composição diferente da dos estudos clínicos revistos pela publicação científica The Lancet. As 200 mil doses recebidas estão, ainda, em armazém.

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