Tata, pugilista de nove anos, anseia por calçar as luvas e voltar ao ringue

Na Tailândia, são cerca de 300 mil os lutadores com menos de 15 anos. A pandemia interrompeu, em Outubro, os torneios de Tata, pugilista de nove anos, que espera pelo regresso aos ringues para ajudar a sustentar a família.

Lutadores de muay thai num torneio na Tailândia, em Setembro de 2020. Athit Perawongmetha/Reuters
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Lutadores de muay thai num torneio na Tailândia, em Setembro de 2020. Athit Perawongmetha/Reuters

Pornpattara Peachaurai, conhecido pelo nome de lutador “Tata Por Lasua”, pugilista tailandês de nove anos, está ansioso por voltar ao ringue. Não calça as luvas desde Outubro de 2020, quando a segunda vaga de covid-19 na Tailândia obrigou a interromper a época de competição desportiva, para evitar aglomerações de pessoas.

“Todo o dinheiro que ganho no boxe, os pagamentos regulares e as gorjetas, vai tudo para a minha mãe”, explica o lutador júnior, citado pela Reuters. “Estou orgulhoso por ser pugilista e ganhar dinheiro para a minha família.” Tata vive com a mãe e a irmã de 16 anos, Poomrapee, também lutadora na equipa nacional juvenil.

A mãe de Tata conta com os seus ganhos para sair da pobreza e espera que se torne lutador profissional de muay thai. O dinheiro que recebe em cada luta é vital para o sustento dos três. “Às vezes ele pede-me brinquedos novos depois de uma luta”, diz a mãe, Sureeporn Eimpong, de 40 anos. Afastado dos ringues, não pode lutar e não tem treinado, mas ajuda a mãe na sua barraca de comida de rua, no sul da Tailândia.

As lutas de crianças na Tailândia tornam-se tão populares como as de adultos, e realizam-se em torneios e festivais. De acordo com a Associação de Boxe Profissional da Tailândia, estima-se que sejam 300 mil os lutadores com menos de 15 anos. A autorização dos pais é o único requisito para que as crianças possam lutar no ringue.

No entanto, alguns médicos apelam à proibição do boxe para menores de idade, argumentando que poderá causar problemas de crescimento, problemas neurológicos, danos cerebrais ou alguma incapacidade física. “Não estou preocupada com o boxe”, afirma Sureeporn, mãe de Tata, e acrescenta que os pugilistas são treinados para que se saibam proteger. “Não há muitas lesões no boxe infantil. Confio neste sistema.”

Mas nem sempre é assim. Em 2018, Tata lutou no mesmo torneio em que um rapaz de 13 anos morreu por causa de uma hemorragia cerebral, após ter sido derrotado no ringue. Sureeporn afirma, em relação ao caso, que o árbitro terá sido demasiado lento a intervir.

Adisak Plitponkarnpim, director do Instituto Nacional de Desenvolvimento da Criança e da Família da Universidade Mahidol, na Tailândia, integra uma equipa de investigadores que fez exames a 250 pugilistas infantis, alguns dos quais revelavam danos consideráveis que poderiam prejudicar o seu desenvolvimento cerebral e inteligência. "Os pais que dependem do rendimento dos seus filhos de oito ou nove anos devem questionar-se sobre o que estão verdadeiramente a exigir deles”, afirmou Adisak.

Sureeporn defende que o boxe é a vida de Tata. “Sou da classe baixa e o dinheiro chega apenas para sobreviver, não tenho poupanças nem casas chiques”, contou. “O futuro do Tata é no boxe.”

Tata, lutador de muay thai de nove anos, usa uma protecção para a cara enquanto espera pelo seu combate, em Outubro de 2020, na Tailândia.
Tata, lutador de muay thai de nove anos, usa uma protecção para a cara enquanto espera pelo seu combate, em Outubro de 2020, na Tailândia. Athit Perawongmetha/Reuters
Tata celebra a vitória numa luta, em Outubro de 2020, na Tailândia.
Tata celebra a vitória numa luta, em Outubro de 2020, na Tailândia. Athit Perawongmetha/Reuters
Tata tenta descansar enquanto a irmã, de 16 anos, usa o seu telemóvel. A sua casa fica no interior de um ginásio, em Banguecoque, na Tailândia.
Tata tenta descansar enquanto a irmã, de 16 anos, usa o seu telemóvel. A sua casa fica no interior de um ginásio, em Banguecoque, na Tailândia. Athit Perawongmetha/Reuters
Lutadores juvenis de muay thai treinam num ringue em Chachoengsao, no Sul da Tailândia, em Agosto de 2020.
Lutadores juvenis de muay thai treinam num ringue em Chachoengsao, no Sul da Tailândia, em Agosto de 2020. Athit Perawongmetha/Reuters
Tata ajuda a mãe a servir clientes na sua barraca de comida, em Banguecoque, na Tailândia, em Outubro de 2020.
Tata ajuda a mãe a servir clientes na sua barraca de comida, em Banguecoque, na Tailândia, em Outubro de 2020. Athit Perawongmetha/Reuters
Lutadores de muay thay brincam juntos depois de um treino, em Setembro de 2020.
Lutadores de muay thay brincam juntos depois de um treino, em Setembro de 2020. Athit Perawongmetha/Reuters
Tata toma banho a seguir a um treino no ginásio em Banguecoque, em Outubro de 2020.
Tata toma banho a seguir a um treino no ginásio em Banguecoque, em Outubro de 2020. Athit Perawongmetha/Reuters
Tata reza após uma cerimónia de hastear da bandeira, na sua escola em Banguecoque, em Outubro de 2020.
Tata reza após uma cerimónia de hastear da bandeira, na sua escola em Banguecoque, em Outubro de 2020. Athit Perawongmetha/Reuters
Lutadores de muay thai posam para a fotografia num estádio de boxe, em Setembro de 2020.
Lutadores de muay thai posam para a fotografia num estádio de boxe, em Setembro de 2020. Athit Perawongmetha/Reuters
Sureeporn Eimpong, mãe de Tata, reage durante o seu combate em Chachoengsao, a 26 de Outubro de 2020.
Sureeporn Eimpong, mãe de Tata, reage durante o seu combate em Chachoengsao, a 26 de Outubro de 2020. Athit Perawongmetha/Reuters
Tata celebra a sua vitória em Chachoengsao, a 26 de Outubro de 2020.
Tata celebra a sua vitória em Chachoengsao, a 26 de Outubro de 2020. Athit Perawongmetha/Reuters
Lutadores juvenis de muay thai lutam num combate em Chachoengsao, a 26 de Outubro de 2020.
Lutadores juvenis de muay thai lutam num combate em Chachoengsao, a 26 de Outubro de 2020. Athit Perawongmetha/Reuters
Tata e Jaruadfai Ufa Boom Deksean lutam em Chachoengsao, a 26 de Outubro de 2020.
Tata e Jaruadfai Ufa Boom Deksean lutam em Chachoengsao, a 26 de Outubro de 2020. Athit Perawongmetha/Reuters
Tata recebe uma gorjeta de um apoiante, após ganhar um combate em Chachoengsao, a 26 de Outubro de 2020.
Tata recebe uma gorjeta de um apoiante, após ganhar um combate em Chachoengsao, a 26 de Outubro de 2020. Athit Perawongmetha/Reuters
Pornpattara Peachurai, conhecido por Tata, treina num ginásio em Banguecoque, na Tailândia, em Outubro de 2020.
Pornpattara Peachurai, conhecido por Tata, treina num ginásio em Banguecoque, na Tailândia, em Outubro de 2020. Athit Perawongmetha/Reuters