Cartas ao director

O nosso modelo: subsídio ao investimento

Na rádio, a ministra da coesão territorial, Ana Abrunhosa, debatia a implementação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) com Ricardo Rio, presidente da Câmara de Braga, afirmando, a propósito da atribuição regional de fundos, que, mesmo que não no PRR, nunca faltariam recursos para apoiar um investimento estruturante - embora aceitando que por vezes não chegassem com a rapidez desejada.

Mais do que aferir sobre a veracidade da afirmação, importa aqui reter a visão sobre o modelo de desenvolvimento que a fundamenta, o apoio estatal ao investimento, ou seja, a ideia de que a melhor aplicação dos recursos comuns é o apoio aos investidores, sobretudo privados, na esperança de daí obter retorno positivo para a sociedade. Constatando, neste como em tantos outros exemplos, que na prática o nosso modelo se baseia na disponibilidade dos Estados para apoiar as empresas, não será tempo de reflectirmos sobre a nossa concordância com este aparente consenso?

Rui Seco, Coimbra

A raspadinha da cobardia

Muito se tem escrito ultimamente e criticado o governo devido à questão da raspadinha do património, que todos dizem que afecta especialmente as classes baixa e média-baixa. Apontam-se números de cerca de 1600 milhões de euros por ano gastos em raspadinhas, e o “nosso” João Miguel Tavares escreveu uma excelente última página sobre o assunto. Eu acho que esta é uma forma cobarde e nada frontal do governo colocar exactamente essas classes sociais a “pagar” IRS e dados os custos políticos de o fazer frontalmente optou pela modo sonso, aliás seu apanágio, embora também ache que em Portugal essas classes deviam ser chamadas a pagar este imposto que como todos sabemos só é pago por cerca de 50% das famílias ficando de fora todas as outras - as quais, pelos vistos, podem gastar por ano em jogo a descomunal quantia atrás referida: se o podem fazer ao jogo também poderiam pagar algum IRS aliviando as classes médias ou médias-altas de uma factura que já é simplesmente pornográfica e que nunca mais pára de subir, ficando sempre por cumprir as promessas de alívio como foi a última de 400 milhões a “devolver” que já todos vimos que ficou para as calendas.

Portanto, e concluindo, até concordo que o governo vá buscar esse dinheiro mas se fosse eu a governar apresentava a conta na liquidação do imposto que está para vir para todos os restantes portugueses daqui a cerca de três meses - era menos viciante e mais claro para todos, só jogavam uma vez por ano.

Carlos Duarte, Lisboa

O Governo que desgoverna

De há três anos para cá que temos visto um governo que se encontra apto a desgovernar ao invés de governar. Fomos do caso do assalto dos paióis de Tancos e da farsa do ministro da Administração Interna, ao polémico processo de nomeação do procurador europeu José Guerra, sempre de mãos dadas com a ministra da Justiça, ao caso da venda estratégica das barragens no rio Douro da EDP à empresa francesa Engie, com um ministro do Ambiente a jogar às escondidas com a Autoridade Tributária. 

Contudo, a verdade é que todos continuam por cá, e os que já saltaram fora já se sabe que arranjarão outro tacho noutra cozinha. Pergunto-me se a próxima polémica será o roubo dos ovos da páscoa, ou se o coelho da páscoa já apresentou demissão oficiosa por já ter sido vacinado indevidamente.

Luna Silva, Albufeira

Todo cuidado é pouco ao falar-se de pandemia

Ninguém duvida que esta pandemia anda a dar cabo dos nervos do mais resistente porque muita informação que surge, designadamente vinda de muitos dos chamados peritos, é contraditória porque assenta na opinião de cada um, sempre variável, o que tende a confundir quem procura nas notícias essa informação, mas também uma perspectiva segura do que está a acontecer e do que poderá suceder, de futuro, no contexto da pandemia. Estamos perante duas situações aparentemente contraditórias: por um lado, uma taxa de incidência de casos que está crescentemente a reduzir - atualmente anda nos 62 por cada 100 mil habitantes, bem longe dos 120 ainda aceites como um sinal positivo. Por outro, o índice de transmissibilidade a aproximar-se de 1, quando já esteve mais baixo. Aqui há quem diga que o facto de se circular mais, como resultado de um desconfinamento progressivo, ajuda a aumentar esse índice, mas que se for possível compatibilizá-lo com uma incidência de casos baixa não trará mal ao mundo. Assim se tenham os devidos cuidados.

Trata-se de uma situação que deve ser tratada com pinças para evitar facilitismos ou alarmismos. Neste caso, noticiar-se em grandes parangonas uma possível quarta vaga na véspera de um desconfinamento, ainda para mais sem certezas garantidas, não é propriamente animador para a população, já por si tão fustigada com as notícias mais díspares... Haja consciência!

Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha

Sugerir correcção
Comentar