Morreu o compositor britânico Simon Bainbridge, que musicou a obra de Primo Levi

A partir dos poemas do escritor italiano, compôs em 1994 Ad Ora Incerta, um ciclo de canções orquestrais para meio-soprano e fagote, surgido na sequência da leitura do livro Se Isto É Um Homem.

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Simon Bainbridge DR

O compositor britânico Simon Bainbridge, que musicou a obra do escritor italiano Primo Levi e liderou o departamento de composição da Royal Academy of Music, morreu esta sexta-feira, aos 68 anos, anunciou a editora Novello.

“Na Novello & Co. Ltd. estamos tristes com a morte de Simon Bainbridge, um maravilhoso e premiado compositor, autor de música ambiciosa, minuciosa e ousada”, escreveu este domingo, na sua página oficial na rede Twitter, a casa editora do grupo Wise Music Classical, que publicava as obras do compositor.

Simon Bainbridge nasceu em Londres, em 1952, estudou composição com John Lambert, no Royal College of Music, e com Gunther Schuller, em Tanglewood, nos Estados Unidos. O sucesso da sua obra Spirogyra, no Festival de Aldeburgh, aos 19 anos, colocou-o na primeira linha dos novos compositores britânicos, e abriu-lhe as portas para a estreia do seu primeiro Quarteto de Cordas, no Festival South Bank de 1972, encomendado pelo maestro André Previn.

Depressa se seguiram novas obras, como Fantasia para Dupla Orquestra, Duplo Concerto, Toccata para Orquestra, Landscape and Memory, para trompa e orquestra, e Miles, obra para trompete e ensemble de homenagem ao trompetista de jazz Miles Davis.

A partir dos poemas de Primo Levi, compôs Ad Ora Incerta, em 1994, um ciclo de canções orquestrais para meio-soprano e fagote, surgido na sequência da leitura de Se Isto É Um Homem, livro em que o escritor italiano relata, sem cedências, num frente-a-frente com a realidade, a detenção no campo de extermínio nazi de Buna/Auschwitz, a que sobreviveu.

Na apresentação de Ad Ora Incerta, na página que a editora Novello lhe dedica, Bainbridge afirma que procurou sempre não invadir as palavras dos poemas de Levi, que remontam ao ano da sua detenção, em Itália, pelas forças nazis, e seguem até perto da sua morte em 1980, sendo atravessados igualmente pela experiência do terror. 

Ad Ora Incerta viria a ser distinguida com o prémio Grawemeyer, dos Estados Unidos. O compositor regressou mais tarde ao escritor italiano, com Four Primo Levi Settings, dedicada ao Nash Ensemble, que gravou as duas composições.

No percurso de Bainbridge destacam-se ainda Chant, sobre a obra de Hildegard von Bingen, Scherzi, encomendada pela Orquestra da BBC para a Última Noite dos Proms, em 2005, e Orpheus, sobre a poesia de W.H. Auden, estreada no Festival de Aldeburgh, em 2006.

Diptych, composta para a Sinfónica da BBC, e Music Space Reflection, para 28 músicos, destinada a ser interpretada no interior de edifícios concebidos pelo arquitecto Daniel Libeskind, são outras obras distinguidas de Bainbridge. Inspirado na obra do pintor flamengo dos séculos XV/XVI Hieronymous Bosch, autor das Tentações de Santo Antão, Simon Bainbridge compôs The Garden of Earthly Delights, para solistas, coro e orquestra, estreada no festival BBC Proms de 2012.

O Gramercy Trio, o Hilliard Ensemble (Tenebrae) e o Endymion Ensemble são alguns dos muitos intérpretes da obra do compositor.

Bainbridge foi também um professor que marcou gerações, tendo liderado os departamentos de composição da Royal Academy of Music e do Royal College of Music. Leccionou igualmente na Juilliard, em Nova Iorque, no Conservatório de Música de Boston, na Universidade de Yale e no Conservatório de Música de Nova Inglaterra.

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