Cartas ao director

Paula Teixeira da Cruz

Paula Teixeira da Cruz, ex-ministra da justiça do governo de Passos Coelho, na sua crónica “Mil anos e um dia” sobre a acção do governo na resposta à pandemia do SARS-Cov-2 e a vida democrática em Portugal. Estou completamente de acordo com o articulado, excepto nas respostas com o sector privado e no uso de máscaras. É do conhecimento público que o sector privado da saúde no início furtou-se a apoiar o sector público da saúde e quando se propôs fê-lo com exigências financeiras inaceitáveis. Também não estou de acordo em relação ao uso de máscaras que, se bem nos lembrarmos, nem a Organização Mundial de Saúde tinha essa proposta. Demorámos três meses a concluir da importância do uso de máscaras na via pública. Quanto ao resto, estou de acordo, mas a autora não está de acordo com o PSD que votou sempre ao lado do governo na sucessiva renovação dos estados de emergência e respectivos confinamentos. Neste aspecto está na generalidade de acordo com o único partido que sempre se opôs ao estado de emergência e aos confinamentos, o PCP. É estranho, mas é verdade.

Mário Pires Miguel, Reboleira

A bóia e o salva-vidas

Ao invés do que se verificou na generalidade da Europa, no nosso país o plano inicial aprovado não incluía os velhos nos grupos prioritários de vacinação, com excepção dos internados em lares ou em unidades de cuidados-continuados. Os que viviam sós ou com a família, foram liminarmente excluídos, ressalvando-se e incluindo no grupo prioritário 1­ indivíduos de mais de 50 anos com pelo menos uma de quatro comorbilidades: IC, DC, DPCO ou IR.

Este plano foi sendo executado às pinguinhas, aparecendo lobbies prioritários recém-criados que iam passando à frente, como os fura filas, os políticos, os juízes, os padres capelães… que foram reduzindo o número já de si escasso de vacinas (agravado pelo facto de António Costa ter prescindido da compra de mais um milhão) o que equivale a dizer que houve milhares que se finaram, porque a vacina lhes não chegou.

Em fins de Janeiro ou princípios de Fevereiro, aquando da exoneração de Francisco Ramos e nomeação do vice almirante Gouveia e Melo para liderar a task force, Bruxelas “ordenou” que se vacinassem todos os velhos de mais de 80 anos.

No C.S. de Paço de Arcos procedia-se à vacinação por ordem alfabética dos maiores de 50 anos… mas como habitualmente só dispunham da vacina da AstraZeneca só eram inoculados utentes com menos de 65 anos, sendo o resto do grupo preterido. Entretanto o vice-almirante Gouveia e Melo, ignorando este grupo prioritário, exigiu que se vacinasse segundo o critério de idade decrescente, reiterando o seu propósito de salvar vidas, pelo que fiquei estarrecida e fremente de indignação, quando soube da vacinação já e, em massa, de 280.000 professores.

Só posso concluir que o salva-vidas foi abalroado pela bóia política à deriva entre as sondagens e, afundou, com os danos colaterais de muitas mortes vãs.

Estela Rocha, Oeiras

Apoios sociais em contexto de crise

O contexto de crise que afecta o país tem vindo a fazer com que a adopção de medidas de apoio social sejam revistas e adaptadas às novas circunstâncias onde muitos cidadãos se vêm confrontados com dificuldades, o que em muitos casos é propício a que se cometam actos em desespero de causa, quando falha a responsabilidade daqueles que têm o dever de trabalhar respostas para aqueles que lhes deram o voto de confiança.

Um governo que pretende assumir protagonismos no combate à crise económica, que é consequência da crise pandémica, não está apostado em reverter a mesma, mas em gastar o dinheiro dos contribuintes em suposto investimento público, quando a nossa dívida pública atingiu em 202o um novo recorde - 270,4 mil milhões de euros -, o que talvez ajude a explicar a teimosia governamental em investimentos públicos duvidosos, em lugar de contribuir para a redução dos números da pobreza.

Quando a primeira figura do Estado tem apelado várias vezes à adopção de programas de combate à pobreza, e vemos por parte do governo a relutância na aprovação do aumento dos apoios sociais, podemos concluir que não será um problema de inexistência de recursos financeiros, mas na inexistência de um levantamento nacional dos níveis de pobreza, bem como na implementação de um programa de fiscalização de abusos, porque ao chefe do governo importa mais gastar onde não deve, quando a existência do problema deveria ser uma oportunidade para o governo fazer melhor.

Américo Lourenço, Sines

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