Festival de BD de Angoulême adiado para Janeiro de 2022

Depois de uma primeira parte realizada online em Janeiro, o festival presencial deveria ocorrer de 24 a 27 de Junho. Mas a pandemia, e não só, obrigou à anulação da edição deste ano.

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A segunda parte, presencial, da 48.ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, prevista para acontecer entre 24 e 27 de Junho, foi cancelada, e a organização anunciou já as datas da edição seguinte: 27 a 30 de Janeiro de 2022.

A aceleração da pandemia em França, que obrigou o Presidente Emmanuel Macron, na quarta-feira, a impor novas medidas de confinamento em todo o país, é a causa (próxima) invocada pela direcção do festival para a anulação. “Oferecer, neste Verão, uma programação densa, diversificada, de qualidade, internacional e acessível a todos, infelizmente revelou-se impraticável perante as contingências sanitárias”, explica a organização na declaração inserta esta sexta-feira no site do festival.

A nota avança que nos próximos meses irão sendo revelados os conteúdos para a 49.ª edição, com a ambição de o festival renascer e voltar a reunir em Angoulême os milhares de amantes que fazem desta cidade “a capital mundial da banda desenhada”.

Já na quinta-feira, contudo, Le Parisien avançava a notícia da anulação do festival deste ano. O diário citava o delegado-geral do certame, Franck Bondoux, a admitir que a decisão o deixava muito triste e que era mesmo “de partir o coração”. Mas “imaginar a realização do festival num formato reduzido, com várias limitações, num quadro em que temos espaços bastante reduzidos, isso já não seria possível”, acrescentou Bondoux, admitindo também que os editores de BD, parceiros incontornáveis do evento, “começavam a hesitar em envolver-se”.

Em paralelo com a crise motivada pela pandemia da covid-19, o Festival de Angoulême viu-se, de facto, também confrontado com um quadro em que muitos editores e autores de banda desenhada vêm criticando a desatenção dos responsáveis governamentais à situação do sector. Le Parisien recorda, a propósito, o boicote promovido por um grupo de artistas, desenhadores e argumentistas, que, em Janeiro, com o lançamento da petição “Não voltaremos a Angoulême” – que viria a reunir perto de oito centenas de adesões –, protestaram contra a precarização crescente da profissão.

Nesse mês tradicional da realização do festival, e perante o quadro de pandemia, a organização decidiu avançar com uma primeira parte do evento em modo online, com o anúncio dos prémios – que destacaria a antologia finlandesa The Thick Book of Kuti como a melhor BD alternativa –, adiando para Junho a componente presencial do certame.

Perante a continuada falta de resposta, e “a incúria” do Ministério da Cultura às exigências do sector, o ilustrador Lewis Trondheim (Grande Prémio do Festival de Angoulême em 2006) anunciou, há duas semanas, que iria devolver a sua medalha de Cavaleiro das Artes e das Letras que lhe fora atribuída em 2005.

Franck Bondoux admitiu ao Le Parisien que estes protestos também contribuíram para a decisão de anulação do festival presencial deste ano, mesmo se não foram os decisivos. “Também não podíamos contar com a presença de autores estrangeiros”, acrescentou o delegado-geral, considerando que, nas actuais condições, a realização do festival “não era economicamente viável e teria degradado a imagem” do certame.

Esta é a primeira vez, desde 1974, que o Festival de Banda Desenhada de Angoulême vê uma sua edição anulada. A “capital mundial da banda desenhada” reúne anualmente 200 mil pessoas nesta cidade do sudoeste de França.

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