Galp diz-se “alvo de acção maliciosa” para “denegrir” a sua imagem

Email com informação falsa e cartazes publicitários usados em campanha de activismo climático procuram “denegrir a imagem” da empresa e levam-na a tomar “as medidas adequadas para reagir”. JCDecaux confirma acção legal contra “acto de vandalismo”.

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RUI GAUDÊNCIO

O comunicado enviado a algumas redacções do país com a notícia falsa de que a Galp estava de saída de Moçambique e o aparecimento de mupis com cartazes publicitários falsos com o logótipo da empresa estão a ser vistos pela petrolífera como uma acção concertada para pôr em causa a sua imagem.

“A Galp está a ser alvo de uma acção maliciosa desde ontem, que usa indevidamente a marca e o bom nome da empresa, e aproveita a trágica situação que se vive em Moçambique para difundir notícias falsas e procurar denegrir a imagem da empresa em cartazes”, disse ao PÚBLICO fonte oficial da empresa.

Na quarta-feira à tarde, começaram a ser identificados em Lisboa alguns cartazes com as mensagens “o nosso futuro é CO2lonialismo”, “conquistámos as explorações de gás em Cabo Delgado”, “a nossa energia cria distopia” e “mais lucro, menos pessoas”.

Além disso, chegou a várias caixas de correio de órgãos de comunicação social um comunicado com o logótipo da empresa e informação falsa sobre a saída da Galp do seu grande projecto de gás natural em Moçambique “devido ao clima de instabilidade, violência terrorista e corrupção” no país, segundo a nota.

A informação acabou por ser reproduzida por alguns meios de comunicação, levando a Galp a reagir: “A Galp desmente categoricamente as notícias publicadas sobre a sua alegada saída do projecto de gás natural em Moçambique, que tiveram por base um comunicado falso enviado às redacções, ao qual a Galp é alheia”.

O PÚBLICO questionou a Galp sobre se já identificou os autores das mensagens publicitárias e do comunicado falso, mas a empresa diz apenas que “estão a ser adoptadas as medidas adequadas para reagir a esta situação”, em conjunto “com as entidades lesadas”.

Neste caso, estão em causa as empresas proprietárias dos suportes de publicidade exterior, como a JCDecaux, dona de um dos mupis (mobiliário urbano para informação) instalados na Praça Marquês de Pombal, em Lisboa, que foi usado nesta campanha, com a qual o grupo de activistas Climáximo diz estar “solidário”.

“Acto de vandalismo”, diz JCDecaux

Contactada pelo PÚBLICO, a JCDecaux Portugal qualificou o caso como “um acto de vandalismo e má-fé”, salientando que “jamais teve conhecimento e/ou envolvimento prévios”.

“No seio de uma operação de manutenção, foram detectados alguns equipamentos que, após terem sido forçados, foram alvo da colocação indevida dos cartazes do referido movimento”, explicou fonte oficial da empresa.

Em seguida realizaram-se “operações de verificação em várias cidades do país”, mas só foram “detectadas ocorrências em Lisboa”.

“Face às características do acto em causa, a JCDecaux, num cabal alinhamento com a Galp, accionou de imediato os meios jurídico-legais à disposição”, adiantou a mesma fonte.

Activistas assumem solidariedade, mas não a autoria

“Publicidade falsa em Lisboa, que denuncia papel da Galp no conflito em Cabo Delgado e fecho da Refinaria de Matosinhos, recebida com solidariedade pelos colectivos activistas Justiça Ambiental e Climáximo”, lê-se no comunicado divulgado esta quinta-feira, dia 1 de Abril, pelo grupo português de activistas pelo clima, em associação com o colectivo moçambicano Justiça Ambiental.

A porta-voz do Climáximo, Mariana Rodrigues, explicou ao PÚBLICO que a instalação dos cartazes publicitários falsos é uma acção de protesto inserida na campanha internacional #CleanGasIsADirtyLie ("o gás limpo é uma mentira”, na tradução livre): “A acção não é nossa, é de activistas internacionais, mas tem a nossa solidariedade”, afirmou.

“Não foi da nossa autoria”, respondeu ainda a porta-voz da Climáximo sobre o comunicado falso distribuído aos órgãos de comunicação social.

A acção dos mupis com mensagens falsas visa chamar a atenção para a “responsabilidade da Galp” na situação que se vive em Moçambique, acrescentou. Segundo a activista, os projectos de gás natural liderados pela francesa Total, de que a Galp é parceira, levaram à “expropriação de mais de 500 famílias” e “contribuíram para um ambiente de indignação e instabilidade” que “deu azo a que os terroristas se reforçassem”.

O comunicado conjunto dos activistas cita Daniel Ribeiro, do colectivo Justiça Ambiental, que afirma não ser “possível dissociar o que se passa em Cabo Delgado do projecto de gás internacional onde a Galp tem uma participação, com parte da construção a cargo das empresas portuguesas Mota-Engil e Gabriel Couto, e o financiamento do Millennium BCP”.

“O padrão colonial” mantém-se, pois “as decisões em Portugal agravam o impacto da crise climática nas populações das suas ex-colónias”, defende Daniel Ribeiro.

Mariana Rodrigues afirmou ainda ao PÚBLICO que a Galp apenas quis fechar a refinaria de Matosinhos “por razões económicas e não por estar preocupada com a transição energética”.

“Se a Galp fosse tão sustentável como se diz, teria um compromisso já firmado há anos em relação a uma produção 100% renovável, garantiria emprego a todas as pessoas afectadas por essa transição, requalificando-as para a produção renovável, e indemnizaria todas as comunidades que afectou directamente ao longo das várias décadas de danos causados”, defendem os activistas no comunicado conjunto.

Uma “transição justa descolonial” na Galp implicaria “a saída imediata de Cabo Delgado, o seu controlo público e desmantelamento planeado, através de uma gestão democrática que envolva os trabalhadores, as comunidades afectadas pela transição e as comunidades afectadas pela crise climática”, acrescentam.

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