Pandemia pode abrir “janela de oportunidade” no combate às alterações climáticas, diz António Costa Silva

O gestor sublinhou que em 2020 a média mundial de emissões poluentes só desceu cerca de 6%, pedindo medidas urgentes contra as mudanças climáticas a nível global.

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António Costa Silva participou no debate “Green Deal [Pacto Ecológico], crise pandémica, e a seguir?”, promovido pelo Goethe-Institut Portugal daniel rocha

O gestor António Costa Silva, que elaborou a pedido do Governo a estratégia de recuperação da economia portuguesa para a próxima década, considerou esta segunda-feira que o impacto da pandemia de covid-19 pode ser positivo na defesa do ambiente.

“A pandemia pode abrir uma janela de oportunidade” na luta contra as mudanças climáticas, mas, para que tal aconteça, são necessárias medidas urgentes e abrangentes, adoptadas à escala global, disse António Costa Silva durante o debate “Green Deal [Pacto Ecológico], crise pandémica, e a seguir?”, promovido pelo Goethe-Institut Portugal.

O gestor sublinhou que em 2020, ano marcado pela pandemia à escala global, a média mundial de emissões poluentes só desceu cerca de 6%.

Sobre as metas definidas para a União Europeia (UE), que passam por alcançar a neutralidade em emissões de carbono até 2050, Costa Silva elogiou os objectivos, mas considerou que “para chegar lá são precisas medidas de outro sentido”.

Uma ideia partilhada pelo professor alemão Ottmar Edenhofer, director e economista-chefe do Instituto Potsdam de Investigação do Impacto Climático, que considerou que a UE atingir as emissões zero em 2050 “é exequível”, mas que, para tal, “precisa preparar as instituições para esse objectivo”.

Durante a sessão online moderada por Luísa Meireles, directora de informação da Lusa, o perito realçou os “grandes desafios” que a UE enfrenta neste campo, e a importância de “dar sinais claros” ao resto do mundo sobre a necessidade de investir na redução das emissões de dióxido de carbono.

A socióloga Luísa Schmidt, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, disse que o Pacto Ecológico Europeu “é uma revolução” e que é preciso “mudar o paradigma energético”, bem como das práticas do consumo de energia.

A investigadora frisou que “têm que acabar os subsídios aos combustíveis fósseis” e apontou a importância de aproveitar os avanços tecnológicos na produção de novas energias, mostrando-se esperançada no papel que as gerações mais novas vão ter nesse processo.

“Há uma geração mais nova que quer mudança e vai pressionar para isso”, lançou, corroborando a ideia dos outros oradores de que esta mudança não pode ser feita por um país, ou por um bloco regional, mas terá de ser feita à escala mundial.

Apontando para o objectivo de uma UE neutra em dióxido de carbono até 2050, Luísa Schmidt defendeu que “é preciso convencer os Estados Unidos (EUA) e a China para que entrem a bordo com o mesmo objectivo”, e vincou que há um impulso, com a vitória de Joe Biden nas eleições norte-americanas, e face ao impacto da pandemia em todo o planeta, que pode ser aproveitado.

Também António Costa Silva apontou a vitória de Biden nos EUA como uma “grande janela de oportunidade”, mencionando também que a China - que, sozinha, consome mais de 50% do carvão do mundo - se comprometeu em atingir a neutralidade carbónica até 2060.

“Temos que mudar o modelo de desenvolvimento económico e social. A UE faz muito bem em apostar na economia circular”, rematou o professor universitário.

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