Aceitar a mudança e usar a resiliência

Embora algumas pessoas sejam mais resilientes do que outras, não se trata de algo exclusivo de “pessoas fortes”, havendo formas de aprender e treinar a resiliência, retirando aprendizagens para o futuro.

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@petercalheiros

O período de crise pandémica que já se prolonga há um ano tem sido particularmente desafiante para muitas famílias, obrigando-as a redobrar esforços para combater não somente o SARS-CoV-2, mas também os efeitos colaterais que a pandemia acarretou e que ameaçam diariamente as pessoas, sobretudo, quem tem um emprego precário ou perdeu rendimentos.

Todos passámos por experiências novas, algumas menos boas ou que foram geradoras de tensão, ansiedade e tristeza, outras, positivas, que permitiram que continuássemos a responder de forma ajustada às tarefas familiares e profissionais que nos foram impostas. Várias foram as pessoas que descobriram que produziram tanto ou mais perante esta situação de exigência física e psicológica do que antes, demonstrando ajustamento.

A essas competências de adaptação aos desafios e adversidades que nos aparecem ao longo da vida chamamos resiliência. Trata-se de uma capacidade que às vezes parece-nos invisível, mas que muitas pessoas puseram em marcha para poder aderir e manter durante tanto tempo os comportamentos de proteção contra o vírus, as alterações do dia-a-dia, o confinamento e o distanciamento de quem mais gostam. Esta capacidade de adaptação desenvolve-se ao longo do nosso curso de vida e contribui para o nosso sentido de competência e para o aumento da nossa autoestima. A resiliência é um processo ativo e adaptativo que também engloba a capacidade de usar pensamentos, emoções e comportamentos para lidar e gerir de forma adequada os fatores de stress e que nos permite recuperar de problemas ou de dificuldades.

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Todos passámos por experiências novas, algumas menos boas ou que foram geradoras de tensão, ansiedade e tristeza, outras, positivas, que permitiram que continuássemos a responder de forma ajustada às tarefas familiares e profissionais @petercalheiros

Embora algumas pessoas sejam mais resilientes do que outras, não se trata de algo exclusivo de “pessoas fortes”, havendo formas de aprender e treinar a resiliência, retirando aprendizagens para o futuro. Os adultos podem, por exemplo, dar mais atenção ao que funciona nas suas vidas individualmente e em família; dar relevo às suas capacidades e competências individuais e usá-las a seu favor; ser gratos e apreciar aquilo que têm e quem são, mostrar-se disponível para resolver problemas de forma diferente do que estava habituado; cultivar boas relações com os outros; abrir-se às relações que trazem afeto e tranquilidade; manter o foco no presente e não se preocupar em demasia com aspectos que fogem ao seu controlo.

Do ponto de vista dos mais novos, é fundamental que as crianças percebam que não é possível estarmos constantemente felizes e satisfeitos. Diariamente haverá algo que nos deixa tristes, irritados, magoados ou zangados, então, temos de nos permitir sentir e aceitar as emoções, procurando dar-lhes uma resposta satisfatória, equilibrando necessidades físicas e psicológicas.

Para ajudar as crianças a aumentar a sua resiliência, os pais podem:

  • Mostrar à criança que os eventos adversos podem ser difíceis, mas não têm de determinar o curso da nossa vida. Existem muitos aspetos que podemos controlar e modificar ou ajustar;
  • Dizer à criança o quanto é amada e que tem o apoio dos pais e da família;
  • Deixar a criança estar com os seus pares sempre que possível;
  • Ensinar a confiar nas suas capacidades para lidar com as situações e a pedir ajuda quando preciso;
  • Promover o bem-estar, através do exercício físico, do relaxamento, da brincadeira e da diversão;
  • Ajudá-la a centrar-se em pensamentos adaptados e que promovam o ajustamento à situação, por exemplo, focando no que a criança conseguiu fazer;
  • Procurar encontrar um significado relacionado com as características, interesses e pontos fortes da criança, preparando-a para aprender com as experiências difíceis;
  • Ensinar a criança a partilhar emoções e preocupações com quem confia e não ser crítico das suas emoções negativas;
  • Com algumas crianças poderá ser útil construir um diário onde escreve as principais situações do dia, os sentimentos que surgiram e como reagiu o seu corpo, preparando-se para tomar decisões diferentes no dia seguinte, caso seja necessário.
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