O Minho foi dormir sob um “halo lunar” — o que explica o misterioso efeito visto no céu

O “halo lunar” é fruto de uma conjugação de factores pouco frequentes. Às redes sociais foram parar várias imagens do fenómeno.

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Diana Cunha
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Meteo Trás-os-Montes

Na noite de quarta-feira várias pessoas assistiram a um fenómeno astronómico pouco frequente: a lua estava circundada por um aro luminoso.

Às redes sociais chegaram vários relatos de que algo anormal, e até belo, se passava com a lua. Numa enchente de incertezas e hipóteses — encabeçadas por um “o que se está a passar com a lua mesmo?” — vão-se partilhando avistamentos do fenómeno astronómico conhecido como “halo lunar”. Por ser característico de um determinado equilíbrio entre a humidade e temperatura atmosféricas, nem todas as regiões do país o conseguem ver — o que explica as divergências nas redes sociais entre pessoas que vêem uma lua cheia normal, e pessoas que vêem a lua rodeada de um aro luminoso. 

Ao PÚBLICO, Máximo Ferreira, astrónomo e coordenador científico do Centro Ciência Viva de Constância (CCVC) explica o fenómeno observado. Começa por citar um ditado popular: “Círculo na lua, água na rua”. Embora fosse dito sem o conhecimento científico que se tem hoje em dia, “as pessoas sabiam que era sinal de que ia chover”. Por palavras mais técnicas: “é sinal de haver muita humidade na atmosfera e, portanto, vê-se muitas vezes aquele halo em torno da lua”. “Há ali um disco cheio de luz e depois vê-se uma espécie de cabeleira a toda a volta, que é mais ou menos intensa dependendo da humidade atmosférica”, acrescenta.

O astrónomo compara o fenómeno com a formação de um arco-íris, que acontece quando "a luz do sol se dispersa nas gotas de água e faz aquele meio arco”. Ora, “se estivéssemos no espaço víamos um arco inteiro”, explica com rigor. “Como a lua está ali bem alta — normalmente isto acontece quando ela está alta — , se ocorrerem esses fenómenos o que se vê é um arco inteiro à volta da lua, e algumas vezes o arco-íris”, justifica.

Além disso, supõe, ao olhar para as imagens partilhadas de observações no Norte de Portugal, que há mais factores em jogo para além da humidade atmosférica no evento desta semana. “Estariam zonas de nuvens por cima dessa região e as temperaturas estariam muito baixas e, eventualmente, cristais de gelo provocavam essa dispersão da luz”, calcula. 

Não tem como prever até quando estará visível e conta que talvez nem os meteorologistas consigam saber até quando as condições atmosféricas se vão manter nestes níveis. O fenómeno é particularmente interessante por não ser muito frequente, e depender das condições atmosféricas de cada região. “Pode ocorrer em qualquer lugar desde haja luz foco (intensa) - e, no caso, nós estamos praticamente em lua cheia e a luz que vem da lua é do sol”, explica. No entanto, só é visível desde que “seja uma atmosfera com esse grau de humidade e que as gotas tenham também um certo tamanho relacionado com as convenções da luz do sol”.

Ainda que a nuvem atmosférica possa abranger “centenas de quilómetros quadrados”, as pessoas que estão mais perto “têm este belo espectáculo”. “Mas, no mesmo momento e um bocado longe, se a atmosfera por cima não tiver estas condições a lua está na mesma fase e a reflectir luz do sol que já não produz este fenómeno”, contrapõe.

“Na zona centro do país e em particular no litoral isto é menos frequente, porque a humidade atmosférica pode existir mas as temperaturas muito baixas em princípio não (pelo menos numa certa região da atmosfera)”, sublinha, garantindo que isso não significa que não possa acontecer também.

“Tenho pena de conhecer o fenómeno e já o ter visto algumas vezes, mas não vi tantas quanto as que seriam necessárias para ficar sem vontade de voltar a ver”, remata Máximo Ferreira, que de Constância vê um halo mais apagado e acabou de ouvir um relato de grande intensidade na Guarda.

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