Governo da Eslováquia em crise por causa de compra de vacina russa

Ministro dos Negócios Estrangeiros é o sexto a demitir-se depois de o primeiro-ministro ter encomendado vacinas Sputnik em segredo, sem o acordo dos outros partidos da coligação. Número de mortos por milhão de habitantes é o mais alto do mundo.

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Há um ano, o Governo tomava posse em Bratislava na presença da Presidente, Zuzana Caputova Radovan Stoklasa

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Eslováquia, Ivan Korcok, demitiu-se, é a sexta demissão de um ministro depois de uma crise que começou há três semanas, quando se soube de um acordo secreto do primeiro-ministro do país, Igor Matovic, e a Rússia para a compra de dois milhões de doses de vacinas Sputnik V contra a covid-19.

Os três outros partidos que formam a coligação não foram informados da negociação e da encomenda de vacinas russas. A Sputnik V não foi ainda aprovada pela Agência Europeia do Medicamento (EMA).

A escalada de tensão levou a própria Presidente, Zuzana Caputova, a dizer esta terça-feira que é preciso que o primeiro-ministro se demita.

A coligação é liderada pelo partido populista anticorrupção de Matovic, que venceu de modo surpreendente as eleições do ano passado, junto com o partido de direita SaS, do ministro dos Negócios Estrangeiros, que se demitiu esta quarta-feira, os conservadores Para o Povo e ainda o Somos Família, um partido de direita populista alinhado com o partido de direita radical de Marine Le Pen em França.

A demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros segue-se às saídas do seu colega de partido Branislav Grohling da Educação e do líder do SaS, que era vice-primeiro-ministro e ministro da Economia, Richard Sulik. Sulik anunciou esta quinta-feira que o partido se retira da coligação, classificando as vacinas russas como “uma ferramenta de guerra híbrida” de Moscovo.

A onda de demissões começou pelo ministro da Saúde, Marek Krajci, do próprio partido de Matovic, na passada sexta-feira. Seguiram-se os ministros do Trabalho, Milan Krajniak (Somos Família), e a ministra da Justiça Maria Kolokova (Para o Povo).

Os partidos da coligação estão, no entanto, de acordo em manter a coligação, incluindo o SaS, e não querem eleições antecipadas, mas exigem a saída de Matovic.

Sondagens dizem que mais de 80% querem que o primeiro-ministro se demita.

Matovic mostrou-se disponível para se demitir, mas com condições: uma delas seria ter um cargo de ministro, o que os outros partidos da coligação já disseram que não aceitam. A outra condição era que o líder do SaS, Sulik, o seu principal rival, não fizesse parte do governo, diz a agência Reuters.

Este é só o exemplo mais recente de problemas entre o primeiro-ministro e os seus parceiros de coligação, que têm tido desentendimentos vários desde a tomada de posse do Governo.

A Eslováquia enfrenta uma grave crise por causa da covid, com o número de mortos por um milhão de habitantes (média móvel a sete dias) a ser neste momento o mais alto do mundo: 13,6, seguindo-se o Brasil com 11,1 e Itália com 6,8, segundo o site Our World in Data.

Um lote de 200 mil doses de vacinas russas já chegou, entretanto, ao país, e estão a ser feitos testes preliminares antes da administração das vacinas. Quando começarem a ser dadas, a Eslováquia será o segundo país europeu, a seguir à Hungria, a vacinar os seus cidadãos com um produto ainda não aprovado pela EMA. Outros países da região já encomendaram vacinas russas, e há mais países a pressionar para a avaliação pela EMA ou mesmo pela compra antes desta aprovação.

A EMA está a preparar-se para inspeccionar os locais de produção da vacina na Rússia, disse esta semana a directora executiva da agência, Emer Cooke. Mas acrescentou que o fabricante ainda não respondeu a todas as questões do regulador.

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