Nesta plataforma de emprego, uma boa resposta por vídeo pode valer mais do que um currículo

A Live Jobs foi criada no final de 2018. Desde então, 100 mil pessoas já se registaram na plataforma de emprego onde as empresas colocam perguntas aos candidatos, que têm de responder por vídeo. O objectivo é tornar o processo de recrutamento mais eficaz e rápido, permitindo que os candidatos mostrem “todo o seu potencial”.

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Ketut Subiyanto/ Pexels

À primeira vista, não há grandes novidades na Live Jobs. O processo de registo nesta plataforma de emprego é o habitual, há um e-mail de confirmação e, depois, abre-se uma página recheada de campos por preencher. Ali, faz-se upload do currículo e de uma fotografia, indicam-se dados pessoais e informações profissionais, pode deixar-se o link para uma ou outra rede social. Está tudo pronto para que a procura de emprego se inicie — e é aqui que a plataforma se distingue.

“A empresa que anuncia a oferta define três ou quatro questões-chave que o candidato tem de responder em vídeo”, começa por explicar Rui Parafita, de 37 anos, co-fundador da Live Jobs. “Geralmente, são questões de triagem, antes de uma entrevista”, que tanto poderão incidir “no nível de inglês do candidato, já que a empresa poderá pedir para que as respostas sejam dadas nesse idioma”, ou em assuntos amplos como objectivos de vida.

E isto traz vantagens para que o processo de recrutamento seja mais fluido e rápido: “O vídeo tem a magia de se ver logo a cara do candidato, mas também a postura, as expressões, a forma como comunica. Tudo independente do currículo. A empresa pode perceber se aquele é um candidato que deve chamar para uma entrevista mais rapidamente.” E os candidatos “mostram todo o seu potencial”, acrescenta o lisboeta.

A plataforma nasceu no final de 2018 e, garante Rui Parafita, é “a única em Portugal” com estas funcionalidades — e tem o seu próprio software para as pré-entrevistas de vídeo. “Mas não inventámos a roda”, nota o co-fundador da plataforma, referindo que, no estrangeiro, “já há casos destes”. Por cá, parece estar a ter resultados: “Temos cerca de 100 mil pessoas registadas e há entre 300 e 400 entrevistas por semana na plataforma. Quanto a empresas, temos mais de 70 inscritas.” Apesar de dirigida a todas as áreas profissionais, a Live Jobs recebe mais anúncios de emprego “de recrutadores das tecnologias da informação”. “Mas há ofertas para todos, independentemente da escolaridade ou área de formação”, assegura.

Para quem ficar reticente com a publicação dos filmes, uma garantia: “Não é permitido fazer download dos vídeos nem partilhar a informação dos candidatos.” Ao mesmo tempo, os candidatos também não podem alongar-se nas respostas, por muito sumarentas que possam ser, já que “cada pergunta do recrutador tem o tempo limite de dois minutos de resposta”. Por outro lado, para que os candidatos não fiquem sem um parecer por parte da empresa a que se candidatam, os recrutadores “têm 48 horas para responder”: “Aqui, na Live Jobs, têm mesmo de dar feedback. No final desse período, o recrutador recebe uma mensagem a dizer que tem determinados vídeos por ver.”

A plataforma de emprego, apesar de gratuita para candidatos, tem pacotes para empresas. Num desses planos, encontra-se a opção de CV Tracking, que “permite fazer uma triagem rápida de todos os currículos da empresa” ou de “candidatos externos à Live Jobs”. “A empresa pode colocar um anúncio noutro local, como o LinkedIn, e enviar um convite a quem responda à oferta para aderir à plataforma. Depois, o candidato poderá responder às respostas em vídeo”, detalha Rui Parafita. A ideia, diz, “não é substituir as entrevistas presenciais, mas ter uma ferramenta de triagem mais eficaz, divertida e fácil de usar”. Por sua vez, as empresas também podem publicar vídeos onde apresentam as suas instalações.

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Rui Parafita é um dos co-fundadores da Live Jobs dr

Pelo caminho, desenvolve-se o processo de recrutamento e a gestão de recursos humanos através da tecnologia, com a presença da inteligência artificial a fazer-se sentir nessa área. “Este mercado é fechado a tudo o que é novo. Há muitas conferências sobre recursos humanos em que se fala das tecnologias, mas as pessoas são muito conservadoras”, aponta. Isto porque “o processo de recrutamento é o mesmo que se fazia há 15 anos”. “Quando colocámos a plataforma online, tivemos um boom de registos, mas houve uma grande resistência. Sabíamos que tínhamos de educar recrutadores e candidatos e foi por isso que, no primeiro ano, demos várias formações, fomos a universidades e testamos a plataforma presencialmente”, recorda.

Rui Parafita não notou “um aumento de vendas” dos planos às empresas durante a pandemia; afinal, “as empresas deixaram de recrutar e o mercado abrandou”. Por outro lado, os utilizadores (tanto recrutadores como candidatos) passaram a usar a plataforma “com mais frequência”. “As pessoas usavam e não usavam. Agora, por estarmos fechados em casa, usam com mais frequência.” O lisboeta acredita que métodos como este, à distância e “mais flexíveis”, vieram para ficar, já que o paradigma, no que ao recrutamento e ao trabalho diz respeito, “vai mudar”.

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