Dia Nacional do Estudante: o futuro começa a ser construído agora

Urgem-se medidas de diagnóstico, acompanhamento, identificação e resolução. É essencial a promoção do desenvolvimento pessoal e académico, hábitos saudáveis e de um ensino superior com metodologias enquadradas e adequadas.

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Sara Jesus Palma

O Dia Nacional do Estudante é um dia altamente político e assinala os feitos e conquistas dos estudantes em prol do ensino superior e do seu futuro. “Se não fizermos por nós, ninguém o fará. O poder está nas nossas mãos, basta querer” tem sido o lema da Associação Académica da Universidade de Évora (AAUE) ao longo deste mandato e de todas as suas actividades e acções.

Num ano tão atípico e num dia de tamanha importância, o lema não podia ser outro. Mas a questão fundamental vai mais além do lema que nos move e pelo qual nos pautamos. “Ninguém pode ficar para trás”, “nós somos hoje o futuro do amanhã”, “o ensino superior são os estudantes” são todos lemas que apesar de estarem na base da nossa acção não revelam a realidade da espinha dorsal de um ensino fragilizado.

A pandemia veio, sem sombra de dúvida, provar que a formação, o ensino e a ciência estão na base de uma sociedade considerada evoluída e desenvolvida. No entanto, a pandemia veio também revelar as fragilidades de um sistema degradado, envelhecido, com métodos pedagógicos e de avaliação desajustados à realidade do século XXI. Apesar dos dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior revelarem um aumento na frequência do ensino superior, o último relatório Education at a Glance veio revelar uma diferença de cinco pontos percentuais entre Portugal e os países da OCDE, relativamente à inscrição numa instituição de ensino superior da população entre os 20 e os 24 anos.

A pandemia colocou ainda, e já referida pela AAUE, uma instabilidade financeira nos agregados familiares que se poderá traduzir num aumento das taxas de abandono e desistência escolar. Da propina ao alojamento, do material escolar às taxas e emolumentos, da bolsa à incerteza, o estudante do ensino superior “sobrevive” com dificuldades constantes, e as fragilizações provocadas pela covid-19 e consecutivos confinamentos acentuam as suas dificuldades. Estes estudantes enfrentam ainda uma agravante da sua saúde mental, já conhecida no meio e ignorada ano após ano, revelando-se agora o problema real.

As incertezas, como as provocadas pelo artigo 259º do Orçamento de Estado, vêm ainda contribuir mais para a agravante destas situações crónicas. Tornam-se urgentes as medidas que só surgem como reacção. É necessário garantir condições e verbas aos Serviços de Acção Social das instituições de ensino superior para que consigam chegar a mais estudantes, com mais capacidade e a diferentes contextos e realidades. Urgem-se medidas de diagnóstico, acompanhamento, identificação e resolução. É essencial a promoção do desenvolvimento pessoal e académico, hábitos saudáveis e de um ensino superior com metodologias enquadradas e adequadas.

Esta quarta-feira celebra-se mais um Dia Nacional do Estudante. Que o dia de hoje sirva para garantir o regresso à actividade lectiva em segurança, traçar efectivamente as prioridades de quem regula o ensino superior e meios adjuntos e definir de uma vez o papel essencial do estudante na sociedade, pois o estudante é o seu presente e o seu futuro.

Hoje é ainda um dia de reflexão sobre as prioridades do ensino superior. Muitos dizem que isto é só uma fase da nossa vida, outros dizem que é a melhor fase da nossa vida, mas a verdade é que seja que fase for, os seus ensinamentos vão acompanhar-nos para o resto da vida e eles vão muito além do ensinamento académico, contribuindo significativamente para a nossa forma de pensar e de estar em sociedade. Um processo evolutivo incontornável por quem passa pelo ensino superior. O futuro começa a ser construído agora. 

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