Acordo à vista na localização da subestação de Runa, em Torres Vedras

População contestava a localização da subestação eléctrica que vai alimentar a linha do Oeste. Infraestruturas de Portugal prometeu estudar melhor alternativa.

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Vários meses de contestação popular, apoiada por autarquias e partidos políticos, terá terminado nesta terça-feira após uma reunião em Torres Vedras que reuniu a Plataforma Runa Acontece, Infraestruturas de Portugal (IP), município, junta de freguesia de Runa e partidos políticos.

Em causa estava a localização da subestação da IP em Runa. Trata-se de uma equipamento que recebe a energia eléctrica de alta potência e a distribui para a catenária para fazer andar os comboios eléctricos. A obra insere-se no âmbito da modernização da linha do Oeste, que prevê electrificar aquela via férrea entre Meleças (Sintra) e Caldas da Rainha. A localidade de Runa (poucos quilómetros a sul de Torres Vedras) fica a meio caminho, pelo que a IP argumenta que não é fácil mudar a localização da subestação pois esta tem de alimentar as duas metades da via férrea, a sul e a norte.

Mas Runa não queria aquele equipamento tão próximo da localidade devido aos problemas de saúde que poderia provocar (um receio aparentemente infundado à luz da ciência), ao impacto paisagístico negativo e à destruição de um caminho que se supõe de origem romana.

A reacção popular levou a alguns momentos de tensão quando, no âmbito de uma subempreitada de desbaste, trabalhadores ao serviço do empreiteiro foram impedidos de cortar as árvores no lugar onde seria construída a subestação. Na calha estava ainda uma providência cautelar para fazer parar as obras, o que poderia comprometer a própria modernização da linha do Oeste.

Nada como o diálogo para tentar obter consensos. A reunião em Torres Vedras, com mais de 20 intervenientes (outras tantos manifestantes aguardavam no exterior mas acabaram por desistir à medida que o tempo passava) durou três horas e meia. E no fim houve fumo branco: a IP comprometeu-se a mudar a subestação para um pouco mais longe, para o outro lado da via férrea.

“Não sendo a melhor solução, é aceitável”, diz João Tomás, presidente da União de Freguesias de Dois Portos e Runa. “Pelo menos fica mais longe das casas e a IP diz que haverá uma protecção arbórea que minimiza o impacto visual do edifício”.

Por outro lado, a população conseguiu uma reivindicação que não estava contemplada no projecto da IP – ter um apeadeiro mais próximo do centro da localidade para melhor servir as pessoas. O actual apeadeiro (que em tempos já foi estação e é hoje um edifício murado apesar do seu valor patrimonial) fica afastado da povoação. A ideia é desafectá-lo e construir um novo mais próximo do centro de Runa.

Para isso, as partes chegaram a um compromisso: a IP constrói o apeadeiro e a autarquia constrói os acessos e um parque de estacionamento. De futuro, será mais fácil apanhar o comboio para os habitantes de Runa.

Mas há mais: a Plataforma Runa Acontece queria também o desnivelamento da passagem de nível na entrada da povoação. A construção de uma passagem superior chegou a estar prevista no projecto, mas foi chumbada porque um dos pilares assentava precisamente no rio Sizandro que passa nas proximidades. Agora a IP terá de encontrar uma solução mais criativa que permita à estrada passar por cima da linha férrea sem interferir com o curso do rio.

A solução final obtida na reunião é consensual, mas não unânime. Jorge Nogueira, membro da concelhia de Torres Vedras do BE, opõe-se à localização alternativa da subestação. “Só afasta alguns metros da povoação e fica numa zona arqueológica muito sensível com vestígios de ocupação romana e calcolítica. E não impede o impacto negativo do edifício junto ao rio e das torres de alta tensão pela encosta abaixo para alimentar a subestação”, disse ao PÚBLICO.

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