Eleições em Israel: Será o sucesso da vacinação suficiente para Netanyahu?

A gestão da pandemia não traz apenas benefícios ao primeiro-ministro: há mais além da vacinação.

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Yair Lapid e Benjamin Netanyahu são as principais figuras destas eleições ABIR SULTAN/EPA

Israel era a Startup Nation, agora é a Vacciation Nation – o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, quer capitalizar com um programa excepcional de vacinação nas eleições.

Um programa que fez de Israel um exemplo internacional e que Netanyahu tem apresentado como fruto de gestão sua – e que mais ninguém conseguiria.

O CEO da Pfizer, que assinou um acordo com Israel (embora polémico por incluir a passagem de dados de saúde dos vacinados para o laboratório), Albert Bourla, falou da persistência de Netanyahu em conseguir um acordo. Bourla disse que recebeu 30 telefonemas de Netanyahu. Bibi, como é conhecido, aproveitou “Tal como fui obsessivo com as vacinas, vou ser obsessivo com a nossa economia”, declarou.

Apesar de a vacinação rápida e eficaz ter posto Israel num lugar único no panorama mundial de vacinação – as Forças Armadas, por exemplo, tornaram-se a semana passada a primeira organização do mundo a anunciar que chegou à imunidade de grupo – a parte do prestígio internacional de Netanyahu não é tão importante como as vantagens da vacinação em Israel. Há ainda, mas com pouco peso interno, a questão dos palestinianos não vacinados, em que Israel argumenta não ter obrigação de vacinar, contra organizações de chefes de direitos humanos que invocam os deveres do país enquanto potência ocupante.

O país teve, no ano passado, uma montanha-russa na gestão da pandemia, com três confinamentos, e um balanço de mais de 6 mil mortos, um grande aumento de desemprego (19,5% em Fevereiro, contra 3,9% no mesmo mês no ano anterior) e de pobreza (um aumento de entre 8 a 14% atribuído à pandemia). 

O ponto fraco da gestão, dizem epidemiologistas e especialistas em saúde pública dentro e fora de Israel, foram os desconfinamentos, demasiado rápidos.

Com a vacinação, o desconfinamento que começou há semanas é menos problemático, porque a vacina não só diminui os casos de doença grave entre os vacinados como a transmissão.

Mas ainda assim, há reservas. Hagai Levine, epidemiologista da Universidade Hebraica – Escola de Saúde Pública Hassadah em Jerusalém, criticou o facto de as decisões sobre a reabertura “serem tomadas à último da hora, à noite, pelo governo”, disse ao New York Times. Mais: “O timing, antes da eleição, tem como objectivo declarar ‘missão cumprida’”.

O efeito da pandemia nas hipóteses de Netanyahu “é bom e mau”, notou, também ao New York Times, Gadi Wolfsfeld, professor de comunicação no centro interdisciplinar de Herzliya. “Por um lado, Netanyahu ganha crédito por ter conseguido vacinas rapidamente e fazer o país ter a sociedade mais vacinada. Por outro lado, muitas pessoas estão zangadas porque os ultra-ortodoxos conseguiram escapar [a medidas de confinamento], e ele é identificado com isso. As pessoas estão zangadas com os confinamentos”, declarou.

Os ultra-ortodoxos também são uma comunidade menos vacinada, e com a hesitação de muitas pessoas mais jovens e sem riscos em ser vacinadas, Israel será, mal terminem os ensaios nessa faixa etária, o primeiro país a vacinar adolescentes dos 12 aos 15 anos.

Wolfsfeld não tem dúvidas de que a reabertura actual foi “uma estratégia cínica”, porque “qualquer aumento de infecções só vai ser visto após as eleições”.

No fim-de-semana foi finalmente possível a quem já está vacinado assistir a um jogo de futebol com milhares de pessoas.

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