Demissões portuguesas na emissora pública de Macau após exigência de patriotismo

A 10 de Março, foram transmitidas directrizes aos jornalistas da TDM, proibindo-os de divulgar informações contrárias às políticas da China e instando-os a aderir ao “princípio do patriotismo” e do “amor a Macau”.

Foto
Ho lat Seng, chefe do Governo de Macau LUSA/Carmo Correia

Pelo menos cinco jornalistas da TDM – Teledifusão de Macau – apresentaram a demissão na sequência de uma directiva que exige uma linha editorial patriótica que proíbe a divulgação de informações e opiniões contrárias às políticas da China. A informação foi avançada esta terça-feira por uma das cinco jornalistas portuguesas que trabalham no serviço de rádio em língua portuguesa da emissora pública TDM. Outra jornalista confirmou a demissão e que a decisão resultava da polémica sobre a linha editorial assumida pela empresa.

A Agência Lusa contactou a direcção do serviço de rádio em língua portuguesa da TDM que não quis fazer comentários sobre esta situação.

A 10 de Março, foram transmitidas directrizes aos jornalistas da TDM, proibindo-os de divulgar informações contrárias às políticas da China e instando-os a aderir ao “princípio do patriotismo” e do “amor a Macau”. As orientações foram criticadas nos dias seguintes pela Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) e o Sindicato de Jornalistas de Portugal, assim como pela Associação de Jornalistas de Macau, que representa repórteres dos media de língua chinesa.

A polémica levou a administração da Teledifusão de Macau (TDM) a anunciar, na semana passada, que o manual editorial da empresa pública de rádio e televisão vai continuar a ser cumprido, após uma reunião com “jornalistas da Direcção de Informação e Programas Portugueses”, reiterando, no entanto, a adesão ao “princípio do patriotismo” e do “amor a Macau”.

Esta terça-feira, os Repórteres Sem Fronteiras (RSF) anunciaram que iriam incluir Macau na sua lista de monitorização, que analisa a liberdade de imprensa em 180 países, após a ameaça de “censura” na Teledifusão de Macau. Na classificação da liberdade de imprensa estabelecida anualmente pelos RSF, figurava apenas Hong Kong, que chegou a ser considerado um bastião da liberdade de imprensa, mas caiu do 18.º lugar, em 2002, para 80.º em 2020, enquanto a China continental é 177.º em 180 países, numa lista que até aqui deixava Macau de fora.

O responsável dos RSF na Ásia acrescentou que a TDM pode converter-se num “órgão de propaganda” da China, devido à “censura da direcção”. Em comunicado, os Repórteres Sem Fronteiras condenaram igualmente, em 19 de Março, “a interferência editorial da direcção das emissoras públicas de Hong Kong e Macau”, considerando que a sua independência estava “ameaçada pela censura da administração”, e instaram “os governos das duas regiões administrativas especiais [RAE] a cessar os seus ataques à liberdade da imprensa”.

A transferência da administração de Macau ocorreu no final de 1999, pouco mais de dois anos depois de a China ter recuperado a soberania sobre a antiga colónia britânica de Hong Kong. Na lei básica de Macau, miniconstituição do território que deverá estar em vigor até 2049, lê-se que “os residentes de Macau gozam da liberdade de expressão, de imprensa, de edição, de associação, de reunião, de desfile e de manifestação”.

As duas regiões têm autonomia em todas as áreas, excepto na diplomacia e na defesa.

Governo de Macau nega restrições ao jornalismo e acredita em media patrióticos

O chefe do Governo de Macau, Ho lat Seng, negou esta terça-feira que o território esteja a impor restrições à liberdade de imprensa e que acredita que os media são patrióticos e amam a região administrativa especial chinesa.

As declarações, citadas pelo Diário de Macau (órgão de comunicação social em língua chinesa), foram realizadas após uma recepção em honra do novo comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da república Popular da China, Liu Xianfa.

As palavras de Ho lat Seng surgem depois da polémica sobre a directiva da TDM. O chefe do executivo salientou que a liberdade de imprensa não foi restringida e que não houve instruções sobre esta matéria. Segundo o diário, o chefe do executivo no território disse ainda acreditar que todos os meios de comunicação social em Macau são patrióticos e que amam o território.

Sugerir correcção
Ler 11 comentários